Viva o povo brasileiro

20/12/2021

Talvez esse artigo devesse se chamar de ilusão também se vive pois, pensando a redundância podemos escrever outro chavão brasileiro: profissão esperança e nós que estudamos a história mundial sabemos que o povo brasileiro tem confiança demais em qualquer vendedor de ilusão que aparece de tempos em tempos para renovar, ainda que de maneira mágica, a fé do povo na política nacional. Assim vemos o povo apoiando a ditadura de 64, o fim do regime militar, os planos econômicos do Sarney e por aí vai...

É nesse contexto que se deu a disputa entre Lula e Collor. A primeira eleição direta para presidente depois de décadas. A campanha de ambos os lados foi suja e mentirosa, no final Collor, com o apoio da grande mídia Folha de São Paulo e Globo (sempre ela) conseguiu a Presidência da República, e graças a isso Fernando Collor e sua ministra da economia Zélia Cardoso impuseram ao povo brasileiro um duro golpe: recolheram ao Banco Central todo dinheiro que a população tinha nos bancos acima de dois mil reais, em dinheiro de hoje, o que naquela época correspondia a dez cruzados novos. Foi ‘o case’ mais estapafúrdio que a população mais uma vez assistiu ‘bestializada’ (lembramos aqui a frase de Aristides Lobo, o deputado que escreveu o decreto da Proclamação da República ‘o povo assistiu bestializado à Proclamação’. Podemos dizer, com ironia, que muita gente matou-se quando viu que todo o dinheiro aplicado na poupança e na bolsa de valores sumiu. Claro, o governo, como sempre, prometeu devolver o dinheiro em dois anos, até hoje a justiça brasileira, que sempre tarda, não resolveu essa questão. Como era claro para quem acompanhava um pouco de economia o plano não poderia dar certo, quanto ao presidente as coisas ficariam piores, pois a elite cansada das maluquices colloridas sapecou-lhe uma Comissão Parlamentar de Inquérito ‘como se sabe a partir daí esse tipo de processo virou moda e um jeito de impedir que os/as presidentes governassem). Jamais saberemos a razão verdadeira da queda do presidente, claro, os livros e os jornais dirão que foi por causa da corrupção, o que agrada a pessoa que não conhece os bastidores da política nacional.  Desde sempre a desculpa de combater a corrupção serviu a todo tipo de golpe: 1930, 1937, 1945, 1964 e daí pra frente.  A narrativa da corrupção a ser combatida pensamos que ainda está na memória do povo brasileiro, não que não houvesse corrupção – ela sempre existe, mas é impossível prová-la no Supremo Tribunal Federal. Deve ser por isso que todos os acusados de corrupção estão nas ruas ou se preparando para sair da penitenciária. Collor, até onde se sabe, era ligado a PC Farias, o que tudo indica o responsável pelas ações da Máfia Italiana no Brasil. Além disso Fernando pretendia ficar na presidência do país por longo tempo (outra mania dos políticos do Brasil) e isso assustou muito os verdadeiros ricos do país que temiam perder fortunas com a nova quadrilha que se instalou no Palácio Presidencial. O presidente queria controlar as mídias, o ouro de Carajás, o complexo de aviação, como também o seu posicionamento favorável à internacionalização da Amazônia somada à abertura econômica e tecnológica do país – sem que as empresas brasileiras estivessem preparadas para essa abertura levou à criação da narrativa da CPI por causa da corrupção: história mais fácil de explicar para o povo do que essa longa verdade acima descrita. Como já vimos a plutocracia nacional estava preparada para a vitória de Lula, dessa maneira a Constituição Federal tornou-se parlamentarista e marcou-se um plebiscito para impor o regime parlamentarista de governo, o que transformaria Lula em um novo João Goulart. Mas nada disso foi necessário, o Alicate, apelido de Collor, ganhou a eleição. E para além disso o processo de impeachment que o levou à renúncia (por medo do referido processo) foi uma lição agradável que os políticos aprenderam. E daí pra frente o presidente que perturbe o ‘modus operandi’ da economia ou os donos do poder será chantageado com a famigerada CPI. À margem de tudo isso caminha o povo brasileiro sempre na mesma esperança do combate à corrupção, assim podemos entender a nova ilusão: SÉRGIO MORO.

 

Autor: Egydio Neves Neto