BETO BELLINI
Esse foi o grande assunto da semana para nós, sertanezinos. A decisão da Raízen de encerrar as atividades da Usina Santa Elisa, anunciada em julho de 2025, marca não apenas o fim de uma operação industrial, mas o encerramento de um capítulo fundamental da história econômica, social e tecnológica de Sertãozinho e do setor sucroenergético nacional.
Fundada em 1936 pelas famílias Biagi e Marchesi, a Usina Santa Elisa foi pioneira na industrialização da cana-de-açúcar fora do Nordeste. Ao longo de quase nove décadas, tornou-se referência em inovação, produtividade e protagonismo no setor. Em 1998, atingiu o marco de maior capacidade de moagem do mundo, com mais de 7 milhões de toneladas.
A usina não apenas produzia açúcar e etanol, mas também funcionava como um verdadeiro campo de testes para tecnologias desenvolvidas pela Zanini, empresa também ligada à família Biagi. Essa sinergia transformou Sertãozinho em um polo de excelência em equipamentos industriais e biomassa.
Nos anos 1970, a Santa Elisa teve papel decisivo na criação do programa Proálcool, que visava reduzir a dependência do petróleo por meio do uso de etanol como combustível. Maurílio Biagi colaborou com o governo Geisel na elaboração do documento “Fotossíntese como fonte energética”, que serviu de base para o programa.
A usina foi uma das primeiras a adaptar sua estrutura para produzir álcool carburante e, com isso, ajudou a consolidar o setor de bioenergia no Brasil. Mais do que isso, equipes da Santa Elisa participaram da construção de outras usinas pelo país, ampliando seu impacto além das fronteiras de Sertãozinho.
Durante seu auge, a Santa Elisa empregava cerca de 4 mil trabalhadores, muitos oriundos de Sertãozinho, Pontal, Barrinha, Pitangueiras e Morro Agudo. O encerramento das atividades, que afetou diretamente cerca de 2 mil funcionários, gerou comoção e preocupação na região.
A prefeitura e o sindicato local têm articulado medidas emergenciais para mitigar os impactos, incluindo cursos de capacitação e negociações com empresas para absorver parte da mão de obra qualificada.
Apesar da desativação, o legado da Usina Santa Elisa permanece vivo na memória coletiva da cidade. Para Maurílio Biagi Filho, a usina representa um “patrimônio imaterial valioso — de memória, de pertencimento, de vínculos afetivos e sociais”.
A história da Santa Elisa é indelével. Ela moldou Sertãozinho, impulsionou o setor sucroenergético e formou gerações de profissionais. Seu fechamento é um convite à reflexão sobre o futuro da bioenergia no Brasil e sobre como preservar a memória de empreendimentos que ajudaram a construir o país
Eu mesmo ministrei cursos de teatro lá, junto com o Américo. Quantas vezes fomos a bailes ou jogos de futebol na usina. Quantos amigos e ex-alunos são egressos da colônia de lá. Memórias.
Gilberto César Ortolan Bellini, mestre em Administração, professor do curso de Gestão Empresarial da Fatec/STZ e da Unip/RP, membro da Asel – Academia de Letras de Sertãozinho