Um dia histórico para Sertãozinho: protesto do setor sucroenergético fecha duas rodovias

CREDITO: ADILSON LOPEZ
05/03/2015

Lena Aguilar
Eddie Nascimento

Sim, um dia para ficar na historia. Na manhã da última terça-feira, 27, a cidade realizou uma manifestação pacífica, jamais vista antes, em defesa do setor sucroenergetico. A ação intitulada “Vamos Caminhar Juntos! Movimento Pela Retomada do Setor Sucroenergético” atraiu uma multidão de trabalhadores que revindicavam dos governos estadual e federal a retomada da economia industrial e consequentemente a abertura de novos postos de trabalho na cidade. Segundo estimativa da Polícia Militar, participaram do evento aproximadamente 9 mil pessoas. Para os organizadores, o número estimado foi de 15 mil.

Por volta das 7h30, as rodovias Armando de Salles de Oliveira (SP-322) e Carlos Tognani (SP-323) foram tomadas pelos manifestantes, entre eles: trabalhadores, empresários, lideranças políticas, produtores de cana e rurais, cidadãos e representantes das entidades realizadoras do Movimento ligado ao setor. Com tratores bloqueando os dois lados da rodovia, eles marcharam por um trecho de aproximadamente dois quilômetros.

Cartazes, faixas e gritos de ordem mostraram a indignação com as políticas adotadas pelo governo federal em relação à falta de investimentos no setor sucroalcooleiro. Entre as reivindicações dos manifestantes está o pedido de políticas para estimular o uso do etanol.

“Precisamos parabenizar todos aqueles que trabalharam para organizar este evento, além de cada um de vocês, trabalhadores, empresários e produtores de cana, que compreenderam a importância desta ação e se uniram ao nosso apelo. Esse manifesto tem o objetivo de chamar a atenção do governo federal para a situação vivida por Sertãozinho e pelas outras centenas de municípios canavieiros, que estão clamando por investimentos no setor sucroenergético, já há algum tempo. Os trabalhadores querem viver e manter suas famílias a partir de seus empregos, não de benefícios oferecidos pelo governo federal. Nossa cidade vive dessa energia renovável e acessível, que é o etanol. É de extrema importância que nosso apelo chegue até Brasília e chame a atenção de todos”, declarou o prefeito, que, na sequência, entregou a carta reivindicatória ao Secretário Estadual de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim.

Ao receber este documento, o secretário destacou o exemplo que os cidadãos de Sertãozinho deram ao resto do país. “O Brasil inteiro deveria seguir o exemplo dos trabalhadores, empresários e agricultores de Sertãozinho, que estão de parabéns pela grandiosa manifestação, pacífica e organizada. Assumo o compromisso de levar as reivindicações do povo sertanezino ao governador Geraldo Alckmin e de apoiar esse Movimento, para que, em Brasília, possamos cobrar medidas reais de incentivo e investimento ao setor sucroenergético”, afirmou Arnaldo Jardim.

Considerado um dos principais centros de produção de açúcar e etanol do país, Sertãozinho vem registrando desaceleração desde a recessão econômica internacional. Isso porque, 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade que depende da cadeia produtiva da cana caíram vertiginosamente.

A cidade, que há 10 anos figurava na lista dos 100 maiores PIBs do país e já ocupou a quarta colocação no ranking nacional em qualidade de emprego, renda, saúde e educação, segundo o índice Firjan de desenvolvimento, hoje amarga um dos piores resultados na geração de empregos do Estado. Só nos últimos dois anos, deixou de arrecadar R$ 30 milhões em tributos.

O presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE Br), Antonio Eduardo Tonielo Filho, explica que a redução do preço do açúcar no mercado externo e a política de controle de preço da gasolina fizeram as usinas produzirem menos e, consequentemente, a industria metalúrgica – fabricante de equipamentos – também acabou prejudicada e revindica apoio das esferas federal e estadual.

“Sertãozinho tem indústrias que produzem tecnologia para o mundo inteiro e trabalhadores que são qualificados para isso. É muito importante ressaltar este fato. É a partir daqui que o governo devia olhar com mais carinho e atenção para o nosso setor. O governo precisa reconhecer o trabalho que é feito com energia renovável: o etanol. Este produto é muito mais rentável economicamente para o Brasil e menos poluente. Em termos de emprego e geração de impostos, o etanol é até mais interessante que o pré-sal. A energia elétrica fornecida através da biomassa da cana é muito mais barata e dinâmica, sendo que, no impacto ambiental, a hidroelétrica também é muito mais barata que uma termoelétrica, por exemplo. Queremos que o governo incentive o nosso setor, através dessas duas fontes totalmente promissoras e sustentáveis”, reivindica Tonielo Filho.

Crise – A constante busca por soluções

Só no ano passado, 2,2 mil metalúrgicos foram demitidos em Sertãozinho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O sindicato da categoria informa, no entanto, que o número é bem maior: cerca de 3,5 mil dispensas teriam sido negociadas pela entidade em 2014. Setores como construção civil e comércio não conseguiram absorver a mão de obra disponível e a inadimplência aumentou.

Entre as soluções propostas estão um melhor investimento e atenção ao etanol, a montagem de matrizes energéticas no país com a inclusão do combustível e energia elétrica produzidos a partir da cana e também a priorização da cogeração de energia a partir do bagaço da cana.

É importante destacar que, nos próximos dias, o grupo de trabalho envolvido na realização do movimento pela retomada do setor sucroenergético se reunirá para definir as estratégias do próximo passo, que levará as reindicações ora apresentadas ao governador do estado para Brasília.

O movimento tem a realização da Prefeitura Municipal de Sertãozinho, Sindicato dos Metalúrgicos, Força Sindical, CEISE Br, Acis, Sincomércio, Canaoeste, Câmara Municipal de Sertãozinho, Sindinap, OAB, Amasert, Sincomerciários, Copercana, Copacesp, Coopercitrus, Coplacana e Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentos de Sertãozinho.

Vale ressaltar que nenhum incidente foi registrado durante o manifesto.