AMÉRICO PERIN
Nem sempre, mas acontece. Acordei numa animação incrível, tinha sonhado que meu país estava sendo governado por pessoas competentes, que não ouvia notícias sobre corrupção há muito tempo, que ninguém mais escondia dinheiro nas cuecas e que nossos jovens – todos – saíam das escolas bem formados e informados, com foco na prosperidade, com muitos planos em mente, pois, ao contrário do presidente, haviam trocado a esteira de ginástica por um bom livro!!!!!! Mas foi realmente um sonho... Ao tomar um café, senti um calafrio: taxaram minha felicidade.
Pois é, acordado, lembrei que a energia elétrica para esquentar o café fora taxada, estava mais cara... o pó de café tinha preço de especiaria importada e o leite... bom, o leite eu nem tinha mais, virou item de luxo. Bebi café puro e amargo, não por escolha, mas por condição social.
Na tentativa de aliviar um pouco a cabeça, fui dar um passeio. Peguei o ônibus, que estava mais caro. Claro. Afinal, o diesel foi taxado, o pneu foi taxado, o cobrador provavelmente também. Se duvidar, taxaram até a catraca.
Desci e decidi ir andando. E andei. Pouco adiante, entrei na Padaria do Sr. Joaquim e vi uma coxinha por R$ 9,50. NOVE REAIS E CINQUENTA! Era uma coxinha gourmetizada? Vinha com certificado de pureza do frango? Não. Era só a taxação da farinha, do óleo, do frango, da eletricidade e da existência.
Parei. Respirei. Sentei num banco de praça — que, em breve, talvez também seja cobrado por minuto de uso. E pensei: será que, se eu sorrir, alguém vem cobrar? Porque no meu país tudo tem imposto. Só a alegria - para quem ainda a tem - que ainda é de graça.
E o veio à mente foi: e nem sabemos para onde vai tanto dinheiro... é tipo pagar ingresso pra um show e o artista nunca subir no palco. E a gente fica lá, olhando o palco vazio e dizendo: “É, pelo menos o som é bom.” Sim, pode ser, mas, para mim, até o som anda muito alto e não se consegue conversar nem nas festinhas de criança, pois, para falar com o vizinho sentado ao lado, é preciso gritar.
O pior é que foram mexer com cachorro grande. Até a primeira-dama, que demostra uma ignorância total sobre política - economia então nem se fala - anda dando palpites em público e piorando o que já está ruim.
Mas continuando meu passeio, cheguei na banca de jornais do seu Frederico e não tive coragem de comprar um jornal, pois só pelas manchetes que li fiquei enjoado. Parece que todos jornais combinaram para que escrevessem a mesma coisa: TAXAÇÃO!!!
Talvez um dia a taxação seja mais justa, equilibrada. Mas, até lá, sigo torcendo pra não inventarem o ICB – Imposto sobre Cidadania Básica. Porque, do jeito que vai, daqui a pouco a gente paga só pra existir.
E olha… nem tô brincando tanto assim. Mas vou parar por aqui, pois, se tentar ocupar muito espaço do jornal, a “redação” manda cortar 50% da matéria.