Resistência à tecnologia mantém vivo os ‘orelhões’ nas vias de Sertãozinho
Da Redação
Orelhão, oficialmente Telefone de Uso Público (TUP) é o nome dado ao protetor para telefones públicos projetado pela arquiteta e designer brasileira, nascida na China, Chu Ming Silveira. Lançado em meados de 4 de abril de 1972, inicialmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, encontram-se orelhões instalados por todo o Brasil, em países da América Latina, como Peru, Colômbia e Paraguai, em países africanos como Angola e Moçambique, na China e em outras partes do mundo.
No início dos anos 2000, as cidades brasileiras tinham nada menos que 1,3 milhão de orelhões, o que, na época, correspondia a um aparelho para cada 124 pessoas.
Era fácil encontrar um telefone público. Eles estavam presentes nas ruas, próximos de prédios públicos e estampavam as paredes de estações de trem, aeroportos e terminais de ônibus. Era comum ver filas para utilizá-los.
Durante os anos de 1980 e 1990, os telefones públicos eram parte da cultura pop, estando presentes em muitos filmes e tendo um impacto significativo na sociedade ocidental. Quem não lembra de Clark Kent, que para se tornar o Superman, precisava entrar em uma cabine telefônica para trocar de roupa?
No entanto, essa realidade mudou bastante nos últimos 20 anos. Embora essas relíquias do passado continuam a diminuir em número, ainda é possível encontrá-los, mesmo em tempo de iPhones e iPods, os “orelhões” ainda existem em Sertãozinho.
Em um país em que existem mais telefones celulares ativos do que habitantes, a impressão que fica é de que quase ninguém usa mais orelhão e, realmente, com a popularização dos celulares, o uso dos telefones públicos caiu bastante.
A maioria nem lembra qual foi a última vez que usou e tem gente que fica espantada quando se fala sobre o assunto. Para quem está na faixa dos 20 anos então, o orelhão já virou peça de museu. Mas, na verdade ainda tem muita gente que precisa desse serviço nas ruas, por estar sem crédito no celular, sem bateria ou até mesmo por opção. Para essas pessoas, o busca pelo serviço se torna uma maratona.
Em Sertãozinho alguns aparelhos ainda resistem ao tempo e até mesmo a vandalização. Na cidade, a empresa Vivo, mantida pela Teletônica Brasil, é a responsável pela manutenção e gerenciamento dos telefones públicos locais. Para você localizar o aparelho mais próximo de você existe inclusive uma opção na página da ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) onde é possível ter acesso ao número de aparelhos que tem na cidade, bem como se estão funcionando ou em manutenção.
Curiosidades
Será que ainda existe um futuro para os orelhões?
O grande problema dos telefones públicos atuais é que eles permaneceram tempo demais desatualizados. Após a migração das antigas fichas telefônicas para a tecnologia de cartões indutivos, em 1992, muito pouco mudou na infraestrutura dos orelhões.
Com a mudança de hábito da população, cidades, empresas e órgãos governamentais, do Brasil e também do exterior, tentam dar uma nova vida aos orelhões. A ideia é ir muito além de ligações gratuitas locais, mas também dar outras funcionalidades aos telefones, como telas de acesso para serviços da cidade, mapas e rotas para turistas, além de servir de estações de carregamento de celular.
A regulamentação da Anatel relativa ao telefone de uso público permite a utilização de formas alternativas de pagamento e a possibilidade de veiculação de publicidade no equipamento. Neste sentido, existe a possibilidade de utilização dos orelhões para novos modelos de negócios a depender do interesse de alguma empresa.
Algumas cidades brasileiras, como Florianópolis e Rio de Janeiro, também já experimentaram transformar os telefones públicos em pontos de acesso Wi-Fi. Tais iniciativas seriam um pontapé inicial para o admirável mundo novo das “cidades inteligentes”, onde diversas infraestruturas seriam conectadas em rede, provavelmente no 5G, oferecendo serviços públicos diversos aos cidadãos.
Recriar essa infraestrutura clássica seria um convite para que usuários, designers e engenheiros ajudassem a imaginar o que o orelhão poderia se tornar se pudesse ser mais do que apenas um telefone.
No entanto, tal tecnologia tem um preço e as operadoras não estão dispostas a arcar e a obrigatoriedade atual do orelhão é apenas das concessionárias do STFC e apenas para a disponibilização da telefonia fixa. Com a aprovação do novo marco legal das telecomunicações, que permite a alteração da modalidade dos contratos das operadoras de concessão para autorização, deve colocar fim às metas de universalização dos telefones públicos.
A nova legislação dá enfoque na expansão da banda larga fixa e das redes 4G e, futuramente, o 5G. Dessa forma, os orelhões deixam de ser prioritários.
Por isso, fica a dúvida: chegou o momento em que os orelhões e outros telefones públicos se tornem obsoletos?