Recessão (retração gengival)

Recessão (retração gengival)
12/04/2021

Recessão (retração gengival)

1) O que é retração gengival?

Entende-se por retração ou recessão gengival, a posição mais inferior (mandíbula) ou superior (maxila) da margem gengival, em relação à coroa dental, culminando com a exposição do cemento e de imediato da raiz. Pode acontecer em qualquer face (lado) do dente relacionado com a gengiva, tem múltiplas causas e o tratamento depende da determinação da causa do problema.

 

2) Por que acontece a retração gengival?

O mecanismo que faz com que ocorra a retração gengival ainda não é totalmente conhecido sendo uma particularidade relatada na maioria das populações mundiais, tanto em países desenvolvidos quanto em países subdesenvolvidos, constitui um evento comum na clínica odontológica, frequentemente percebida pelos indivíduos levando-os a buscar por orientações profissionais e tratamento.

A etiologia (causa) é multifatorial podendo estar relacionada com a presença de biofilme ou placa bacteriana, tártaro ou cálculo dental, movimentação ortodôntica, interferências oclusais, mordida traumática, atrição dental, bruxismo, escovação dental incorreta, tensões musculares excessivas e constantes, características gengivais e periodontais, inserções musculares, cirurgias bucais em geral, perdas de elementos dentais e tratamento ortodôntico.

Embora de difícil comprovação, fatores hereditários específicos podem estar envolvidos, assim como poderá ocorrer uma conjunção de diferentes fatores que levam ao aparecimento do problema. Outra particularidade é que a prevalência da retração gengival aumentou com o passar dos anos e também com o avanço da idade.

 

3) Existe alguma probabilidade ou hereditariedade para que as pessoas tenham retração gengival?

Com relação à hereditariedade, ela influencia em muitos aspectos das características anatômicas e fisiológicas do tecido gengival e periodontal, mas não se comprova um fator hereditário específico que produza uma previsibilidade, ou seja, se o problema vai ou não ocorrer, quando e em quais condições.

 

4) É verdade que a escovação com “muita força” ou com escovas de cerdas duras pode acarretar retração gengival?

Sim, a chamada escovação traumática é um dos fatores relacionados com o aparecimento das retrações gengivais. Cerdas duras e cremes dentais muito abrasivos são fatores adicionais que agravam a situação, pois provocam micro-lesões gengivais que se repetem constantemente, não permitindo a cicatrização correta do tecido agredido. Assim, fibras que “prendem” a gengiva ao dente e ao osso alveolar, vão sendo destruídas, permitindo o deslocamento apical da margem gengival, expondo a raiz. É um processo cíclico. Após a exposição da raiz, a escovação traumática irá contribuir para o desgaste da própria raiz, o que favorecerá o surgimento das chamadas perdas teciduais ou “lesões cervicais não-cariosas”.

5) Retração gengival tem relação com doença periodontal ou com a mordida do paciente?

Uma das principais causas da retração gengival que envolve a presença de microorganismos são as doenças periodontais. Os traumas recorrentes da região cervical ou gengival da coroa dental promovem inflamações no tecido gengival que evoluem para a destruição das fibras do ligamento periodontal e à consequente recessão gengival. A calcificação do biofilme ou da placa bacteriana ali instalada, acelera o processo pois faz com que a remoção da causa não seja mais possível por meios caseiros como a escovação. O agravamento da doença periodontal não só aumenta a retração ou recessão gengival, como também destrói as estruturas de suporte levando à mobilidade e possível perda do elemento dental. Portanto é primordial a intervenção e o acompanhamento profissional no sentido de impedir o avanço da doença periodontal e de outros problemas daí advindos, como interferências e desarranjos oclusais.

Em se tratando da “mordida do paciente”, o profissional deve estar atento à presença de contatos prematuros, para-função, maloclusão, sinais de atrição, hiperatividade muscular que geram tensão e abfração, possíveis sinais de bruxismo, etc. Em outras palavras, forças excessivas resultantes de hiperatividade muscular podem causar concentração de forças de tração e compressão na área cervical do dente (próxima à gengiva), causando micro-fragmentações nas estruturas dentais que, uma vez perdidas, causam lesões dentais não-cariosas (degraus, cavidades, desgastes e até hipersensibilidade).

 

6) Retração gengival tem relação com o estresse e outras doenças decorrentes da vida moderna? É preciso usar placa ou restaurar? Isso ajuda?

O estresse provocado pelas atividades do mundo moderno é um fator desencadeante da hiperatividade muscular e secundariamente com o relaxamento dos protocolos de higienização bucal e dos cuidados com a saúde em geral. Sem dúvida que estará, no mínimo indiretamente, relacionado entre as causas da retração gengival.

O uso de placas mio-relaxantes estará condicionado à correta determinação da causa, porque outros fatores poderão estar associados, como as interferências oclusais e até uma possível DTM (Disfunção-têmporo-mandibular). Restaurações estéticas com resina composta são procedimentos utilizados com sucesso para a reanatomização de áreas onde houve perda de estrutura dental, como nos casos de lesões cervicais não cariosas e também para a correção dos defeitos estéticos provocados pela recessão gengival que ocorrem entre os dentes e que geram desarmonias bastante graves do ponto de vista estético.

 

7) A retração gengival produz muita sensibilidade dental, mas como surge essa dor?

Uma vez que a retração gengival se inicia, há uma exposição do limite coroa-raiz o qual denominamos limite esmalte-cemento. O cemento, de modo simplista, é uma estrutura que protege a raiz e onde se inserem as fibras do ligamento periodontal. Quando está exposto ao meio bucal, rapidamente ele é perdido e a dentina da raiz fica exposta. A dentina por sua vez, é uma estrutura que apresenta túbulos (canais) que contém células, fluídos, proteínas, células que são responsáveis pela transmissão de estímulos que chegam até nas terminações nervosas da polpa dental, popularmente conhecidas como “nervos do dente”. Isso ocorre pela exposição dos túbulos ao meio externo.

Então, quando se toca nessa região com algum objeto, quando se escova o dente, quando ingerimos substâncias ácidas, doces, geladas ou quentes, se desenvolve uma dor aguda, relatada pelo paciente como um “choque” ou uma “fisgada”, que cessa quando o estímulo negativo é removido. Convém ressaltar que nem todos os pacientes com retração gengival terão episódios de hipersensibilidade.

 

8) Existem tratamentos para a sensibilidade? Quanto tempo duram?

Os tratamentos para essa sensibilidade excessiva podem ser conservadores ou restauradores.

Como dito anteriormente, a restauração é destinada para aqueles casos onde houve perda de estrutura dental (cavitações). O tratamento conservador é realizado profissionalmente com procedimentos e materiais de ação neural (atuam sobre as terminações nervosas livres e sobre a transmissão de estímulos), de ação obliteradora (bloqueiam os túbulos e/ou a entrada dos mesmos e mineralizam a dentina exposta) ou de ação mista (neural e obliteradora); o tratamento conservador também é complementado em casa com bochechos com soluções fluoretadas e uso de cremes dentais dessensibilizantes.

O tempo médio de tratamento é de 4 a 6 semanas, porém a manutenção caseira do mesmo deve ser prolongada, indicada e acompanhada pelo profissional, pois a presença da Hipersensibilidade Dentinária Cervical (HSDC) é recorrente e crônica em muitos casos.

 

9) A pessoa que já usou aparelho ortodôntico e escova os dentes com força, pode vir a ter retração gengival?

Sem dúvida. O reposicionamento dental, dependendo do tipo de movimentação necessário para a correção oclusal, poderá ter como sequela uma predisposição para o aparecimento de recessões gengivais pontuais. Nesse caso, a escovação traumática acelerará o processo de retração gengival. Situações como essa descrita são frequentemente visíveis em pré-molares e caninos.