RECESSÃO - Após entressafra da cana-de-açúcar, ‘futuro’ da indústria e do emprego é incerto em Sertãozinho

RECESSÃO - Após entressafra da cana-de-açúcar, ‘futuro’ da indústria e do emprego é incerto em Sertãozinho
31/03/2015

Fernando Laurenti

 

Neste início de ano, a indústria sertanezina ‘puxou’ a criação de vagas, mas não foi o suficiente para evitar a queda em relação à vaga de emprego, que caiu 12,39% em relação ao ano passado.

O secretário da Indústria e Comércio de Sertãozinho, Carlos Roberto Liboni, entende que os números só refletem a realidade da crise que vive o país.

 

 

“Nós sofremos muito mais com a crise internacional, que se iniciou lá atrás, do que com a crise do país. E ainda temos uma dificuldade local, que é a crise do setor sucroalcooleiro. Se olharmos os gráficos, podemos ver que a perda de postos de trabalho não é só em Sertãozinho. No estado de São Paulo e no Brasil, de um modo geral, a queda é considerável, mas Sertãozinho paga um preço mais caro que os outros setores”.

 

 

Os analistas financeiros fazem refletir o pessimismo do mercado financeiro. Eles estimam que o PIB terá retração de 0,50% em relação 2015 e que a inflação subirá a 7,9% acima da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%.  O presidente do CEISE Br, Antonio Eduardo Tonielo Filho, vê um futuro incerto para a indústria e para os trabalhadores, após a entressafra, que termina no mês de abril.

 

“ O futuro será incerto não só para a nossa Industria e sim o Brasil, o Brasil esta com uma incerteza muito grande, vejo que teremos um ano de muitas dificuldades com uma tendência de uma pequena melhora para 2016. Acabando a entressafra agora em abril, que são as reformas, não vejo nenhum projeto sendo contratado para a construção de novas fabricas.”

 

De acordo com dados do Ministério do Trabalho, o município, que vive problemas econômicos com a crise no setor sucroenergético gerou 1.619 empregos no primeiro mês de 2015, 8,63% a menos que no mesmo período em 2014.

O destaque ficou com as fábricas, com 848 postos abertos, mas que não empolgam o presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE-Br), Antonio Eduardo Tonielo Filho, que os atribui a contratos temporários para atender aos pedidos de manutenção da entressafra da cana-de-açúcar.

 

“Eu não fico empolgado com essas vagas que foram criadas porque a maioria delas foram de contrato de 3 meses - isso é temporário, não se têm nas indústrias novos pedidos. Temo mais demissões após a entressafra da cana”, disse Tonho Tonielo.

 

A cidade é ligada diretamente ao setor de agronegócio e açúcar e etanol. O etanol tem valores baixos em relação ao valor no custo da produção. O açúcar tem no mercado internacional preços despencando. Tudo isso e mais a recessão do país acabam estourando no comércio local .

 

 

 “Toda crise, seja ela da cana ou crise nacional, tudo afeta nós, do comércio. Estamos muito preocupados e sentido o momento de vendas baixas. A crise é geral. Quando tem desemprego, tem menos dinheiro girando no comércio”, garante Zanandréa.

 

A crise não afeta só a indústria e os empresários do setor sucroenergético.  As dificuldades se estendem para toda a sociedade brasileira. O professor Beto Bellini fala dos principais fatores que implicam na crise e nas demissões e quais  são os cuidados que os investidores precisam ter nessa hora de recessão.

 

 “Importante dizer que a crise não foi da noite para o dia. Ela vem aumentando e pega de cima para baixo todos os setores. O sofrimento neste momento de recessão é geral. Vale alertar a todos, principalmente os investidores, que é momento de pensar bem antes de fazer um negócio, principalmente economizar e não fazer compras a longo prazo.”

 

 

 


Considerado um dos principais centros de produção de açúcar e etanol no país, o município de Sertãozinho vem registrando desaceleração desde a recessão econômica internacional. Isso porque, 70% do PIB da cidade dependem da cadeia produtiva da cana.

A cidade, que já ocupou a quarta colocação no ranking nacional em qualidade de emprego, renda, saúde e educação, segundo o índice Firjan de desenvolvimento, hoje amarga um dos piores resultados na geração de empregos do Estado.

 

Só nos últimos dois anos, o município de Sertãozinho deixou de arrecadar cerca de R$ 30 milhões em tributos.

 

No começo deste ano, mais precisamente em 27 de janeiro, cerca de 15 mil trabalhadores, sindicalistas e representantes do setor sucroenergético bloquearam a Rodovia Armando de Salles Oliveira (SP-322) fazendo manifestação contra a crise que deixou mais 2 mil desempregados na cidade só no ano passado.

Os problemas também levaram a administração municipal a assinar um "Pacto Social" com empresários, usineiros e metalúrgicas, com o objetivo de minimizar os prejuízos causados pelas demissões.

Os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos estão sentando à mesa com os patrões na tentativa de buscar alternativas para evitar demissões em massa.

 

 

“Foi assim na semana passada, claro que tudo tem um limite, mas o momento é de sermos no mínimo racionais e parceiros. Estamos trabalhando no banco de horas, na redução de jornada, tudo vale neste momento na tentativa para evitar mais demissões”, disse Samuel Marcio Marqueti,  presidente do Sindicato dos Metalúrgicos.