Odontologia estética: Você já ouviu falar sobre faceta?

Odontologia estética: Você já ouviu falar sobre faceta?
10/05/2021

ENTREVISTA COM DR. ANDRÉ MARCELO PERUCHI MINTO

CROSP: 40915

RECESSÃO

MODA, MODERNIDADE, FACETA?
O que é faceta e para quais casos são indicadas?

Dá-se o nome de faceta à restauração total de uma das faces do dente. Obviamente que quase a totalidade desses procedimentos é realizada na face vestibular (externa) do dente. Porém, em alguns casos, a mesma pode ser realizada na face interna dos dentes. Elas podem ser utilizadas em várias situações clínicas que envolvem função e estética, como por exemplo para dentes escurecidos que não respondem ao clareamento, alterações de forma dental, correção de dentes mal posicionados, fechamento de diastemas (espaços entre os dentes), reanatomizações dentais, alterações de contorno, harmonizações de dentes com múltiplas restaurações, restabelecimento de guias de desoclusão, restauração de dentes fraturados, etc. Convém salientar que, embora seja empregada em muitas situações clínicas, há que se considerar a real necessidade do procedimento, pois diferentemente do que aparece em mídias e redes sociais, as facetas são um procedimento invasivo em mais de 90% dos casos. Aquele pensamento de que “é só tirar o molde” e mandar fazer, não condiz com a realidade.


Existem cores e tamanhos? Quem escolhe, o dentista ou o paciente?

Sim, facetas são realizadas em diferentes tonalidades e diferentes formatos ou anatomias, sempre se buscando a maior naturalidade e harmonia da estética. A decisão deve ser tomada conjuntamente, porém, por se tratar de um procedimento técnico, cabe ao profissional explicar e conduzir a decisão na busca pelas melhores opções, orientando o paciente e dando a ele condições de entender o resultado que terá diante desta ou daquela escolha.


Existe quantos tipos de facetas?

As facetas podem ser classificadas, indicadas e preparadas de diferentes maneiras, como por exemplo de acordo com o material a ser utilizado (resina ou cerâmica), de acordo com o tipo de preparo ou desgaste a ser realizado no dente, de acordo com a condição dental e com o grau de escurecimento do dente, de acordo com a oclusão (mordida) do paciente, de acordo com a posição do dente no arco dental, de acordo com a necessidade estética, dentre outros fatores. Nesse interim, é bom definirmos a diferença entre facetas e as ditas “lentes de contato dentais”, que nada mais são do que facetas de pequena espessura (entre 0,2 e 0,5 milímetros). Portanto, ambas são facetas. O termo “lentes de contato” foi cunhado por que, dada à pequena espessura, elas são extremamente translúcidas.


As facetas são estéticas ou existem casos como doenças congênitas ou má formação dental que pode fazer uso delas?

Embora a recomposição da estética esteja entre as indicações para o emprego de facetas, observamos hoje em dia uma banalização do uso de facetas que, incorretamente, são utilizadas para corrigirem defeitos que poderiam ser sanados com métodos menos invasivos. Um claro exemplo disso é quando o paciente tem um ou dois elementos dentais com problema estético e decide confeccionar facetas em 6, 8 ou até 10 dentes sob a falsa premissa de uniformizar o sorriso ou a estética. Trata-se de uma extrapolação da técnica e que deve ser evitada e o paciente orientado pois, na esmagadora maioria dos casos, sempre há necessidade de desgaste dental, especialmente quando o material indicado é a cerâmica. Há que sempre se considerar a real necessidade do procedimento. O desgaste ou preparo dental, visa criar espaço para acomodar a restauração, no caso, a faceta. O preparo ou desgaste só poderá ser relegado a segundo plano, quando a anatomia dental já estiver naturalmente reduzida como nos casos de incisivos cônicos ou conóides. Este entendimento é de suma importância, pois como se sabe, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Se em qualquer restauração, mormente nas facetas, o profissional aumentar o contorno dental inadvertidamente, gerando sobrecontorno, haverá reflexos negativos sobre as estruturas de suporte e proteção do dente, tais como, inflamações e recessões gengivais, sangramento gengival, aparecimento de bolsas periodontais, alterações de forma gengival, cáries, perda de inserção dental etc. Esses são princípios básicos da odontologia e que estão sendo muito negligenciados, especialmente nos dias de hoje, quando erroneamente se toma as facetas como um caminho para lucro certo e rápido.


Se fiz clareamento, eu posso usar a faceta? Ou não chega ao tom do meu dente?

Sim, poderá receber um tratamento com facetas, mesmo no caso de dentes clareados. Há uma enorme gama de cores para as facetas, as quais incluem as cores para dentes clareados. É importante dizer que, quando se utiliza facetas pela técnica indireta (cerâmica ou resina), toda a arte estética de forma e de cor é passada para o técnico em prótese dentária, sempre sob a supervisão do cirurgião-dentista. Já nas facetas confeccionadas diretamente na boca (resina) essa responsabilidade pertence exclusivamente ao cirurgião-dentista. A harmonização da tonalidade é tanto mais difícil quanto menos dentes estiverem envolvidos no processo de restauração. Em outras palavras, é infinitamente mais fácil se obter resultados satisfatórios restaurando-se mais dentes do que menos dentes. O caso mais difícil e emblemático é quando existe uma faceta só a ser realizada e tal caso se torna muito mais complicado quando esse dente é o incisivo central superior.


Se eu tenho coroa no meu dente, posso colocar a faceta por cima?

A resposta é sim. A colagem ou cimentação de uma faceta sobre uma peça protética (coroa) de cerâmica já instalada é plenamente possível, desde que se possa fazer um preparo para não gerar sobrecontorno na restauração final. Por outro lado, antes de se decidir por esse procedimento, é necessário um exame clínico e radiográfico do dente que possui a coroa e da própria adaptação e modelo da coroa existente, se faz uma ação necessária.


Eu possuo implante, uma coroa sobre o implante e não estou satisfeita com a cor. O que posso fazer?

Inicialmente caberá ao profissional avaliar qual ou quais as causas da alteração de cor. Muitas vezes o problema está no implante em si, o que dificulta a resolução do problema. Mas se a causa residir na coroa protética, pode-se estudar a instalação de uma faceta sobre a coroa ou então a substituição da coroa. Normalmente, nesses casos, a substituição da coroa é a opção mais viável.


No caso das facetas, posso colocar somente em cima (arco superior) ou embaixo (arco inferior)?

Cabe ao profissional decidir quais os dentes serão envolvidos no tratamento. Aqui abre-se uma questão bastante séria, onde o custo do tratamento deveria ser deixado de lado num primeiro momento. Do que se trata? Quando se instala facetas cerâmicas somente nos dentes superiores ou inferiores, os dentes antagonistas que entrarem em contato com essas facetas de cerâmica, serão invariavelmente desgastados pela cerâmica ao longo do tempo. É o que acontece quando se decide alongar esteticamente os dentes superiores com facetas, por exemplo, sem a contrapartida dos dentes antagonistas, isto é, sem realizar a instalação de facetas nos dentes inferiores. Isso ocorre pelo simples fato de que, os materiais cerâmicos utilizados atualmente tem resistência à abrasão muito superior ao esmalte dental, chegando a ser 2 ou 3 vezes mais resistentes. Desafortunadamente, é o que mais vemos nos dias de hoje. Propagandas e mais propagandas de “lindas” reabilitações com facetas cerâmicas realizadas somente em uma das arcadas, predominantemente a arcada superior. O tempo falará por si só.


Quem faz faceta é o dentista ou é o protético?  Por que os valores são elevados?

As facetas podem ser confeccionadas tanto pelo dentista como pelo protético, como dito anteriormente. O custo operacional é relativo e deve ser encarado levando-se em conta o valor agregado (dificuldade x aprimoramento técnico x conhecimento científico-profissional), e também o custo-benefício (investimento x durabilidade x satisfação do paciente).

Pode haver algum problema na minha dentição depois do uso da faceta?

Além dos problemas de desgastes já relatados, quando mal executadas, as facetas podem gerar sobrecarga oclusal, alterações de posição, mobilidade dental, trincas, fraturas, alteração na dicção e até problemas pulpares (canal). Mas são situações extremas.

As facetas são para o resto da vida ou preciso trocar? Tem algum tipo de manutenção?

Como tudo na vida, nada é para sempre. As facetas têm uma vida-útil que após expirada, exigirá reparos ou trocas, no caso de facetas de resina, ou substituição completa se forem de cerâmica. É muito difícil a execução de reparos em facetas cerâmicas. As facetas de resina exigirão maior manutenção, como repolimento, por exemplo. O fato é que qualquer restauração deverá receber o mesmo zelo do que se dá aos dentes naturais, ou até mais. Se o dente falha, o que diremos de restaurações que, por melhor que sejam, jamais, nem de longe, substituirão o esmalte e a dentina.

Qual tempo de duração da faceta?

A literatura relata algo em média de 4 a 6 anos para facetas de resina e entre 10 e 15 anos para as facetas cerâmicas. Porém a durabilidade dependerá de muitos fatores, como a extensão da restauração, hábitos do paciente, oclusão do paciente etc. O que se observa, negativamente, são jovens procurando cada vez mais ao tratamento com facetas, sem a devida orientação, simplesmente movidas por uma busca desenfreada por estética, que poderá levar à frustração e arrependimento, quando se trata um atitude como modismo, é um procedimento muitas vezes irreversível. Há que se preocupar sim com o futuro. Comparo, grosseiramente, às tatuagens. Muitas pessoas cobrem o corpo com tatuagens, em nome de uma cultura que amanhã poderá não mais existir, ou que lhe causará constrangimento quando a maturidade chegar. Assim também e de novo, a visão de que “lentes de contato dentais” são bacanas, estão na moda e quanto mais brancas melhor, compõem um aspecto nebuloso, não técnico e até anti-ético, pois não prevê os prejuízos futuros. Portanto, procedimentos em área da saúde devem ser empregados de forma correta e bem indicados.

Faceta escurece?

No caso das facetas em resina, alterações de cor são notadas com o passar do tempo por diferentes razões. No caso das facetas cerâmicas, especialmente as lentes de contato”, poderão sofrer alterações de cor devido ao escurecimento natural dos dentes que receberam as facetas, devido à mineralização fisiológica que ocorre durante toda a vida do paciente e não propriamente por alteração de cor na cerâmica, o que é pouco provável. Alterações e cor ocorrerão com maior frequência na linha de cimentação, na união da faceta de cerâmica com o dente. Por outro lado, preocupa saber que pessoas que receberam facetas extremamente brancas, quando atingirem uma certa idade, possivelmente terão um sorriso artificializado e não condizente com a idade. Já há relatos de casos de pessoas que procuraram substituir as facetas por esse motivo, optando por cores mais harmônicas com os dentes naturais.


O que posso comer? Quais os cuidados com a limpeza?

Algumas restrições e orientações são passadas aos pacientes quando estes recebem facetas de resina, como cuidados com hábitos para-funcionais de roer unha, morder objetos, raspar esmalte das unhas com os dentes, alimentos corantes ingeridos com frequência etc. No caso das facetas em cerâmicas, poucas restrições existem, mas devemos tratá-las da mesma forma. No momento de higienização, deveremos encará-las como encaramos os nossos dentes. Com todo zelo. O fato é que o valor que se dá aos dentes, se dará às restaurações. E assim poderemos prever o destino dos trabalhos realizados.