BETO BELLINI
Em uma sociedade que valoriza o mérito, a conquista e a superação, é curioso — e um tanto desconcertante — notar o quanto o sucesso alheio pode incomodar. Não faltam exemplos de pessoas que, ao verem alguém prosperar, ao invés de se inspirarem, torcem contra.
Num país onde a superação pessoal muitas vezes caminha ao lado de desigualdades históricas e falta de oportunidades, falar sobre sucesso pode soar provocador. Ainda assim, mais provocador parece ser o incômodo que o sucesso alheio desperta. E não estou falando do sucesso exibido com arrogância ou insensibilidade, mas daquele conquistado com esforço, talento e coragem. Por que, afinal, tantos torcem contra?
O sucesso de alguém muitas vezes atua como um espelho: ele nos obriga a confrontar nossas próprias inseguranças, escolhas e estagnações. Quando alguém próximo cresce — seja conquistando uma promoção, abrindo um negócio ou ganhando reconhecimento —, isso pode despertar sentimentos de inferioridade ou frustração em quem está à volta. E o mais fácil, nesses momentos, é desqualificar o outro em vez de encarar os próprios desafios.
Nem sempre a inveja se manifesta de forma escancarada. Ela pode se esconder atrás de frases como “também, com aquele empurrãozinho...” ou “sorte a dele”. São sutilezas que minam conquistas e tentam justificar o mérito alheio com fatores externos. E, muitas vezes, essa postura parte de quem mais se diz próximo: amigos, colegas de trabalho e até familiares.
O antídoto para o incômodo alheio é seguir. Persistir. Celebrar as próprias vitórias. Afinal, o verdadeiro sucesso não é apenas alcançar um objetivo — é fazê-lo com autenticidade, ética e resiliência, mesmo sabendo que nem todos aplaudirão.
O sucesso pode, sim, incomodar. Mas esse incômodo diz mais sobre quem sente do que sobre quem conquista. Que tal usá-lo como combustível para crescer em vez de criticar?
Mas, como diria Nelson Mandela, "o que importa não é o quanto caímos, e sim o quanto somos capazes de levantar". E eu diria: também o quanto conseguimos subir sem pedir desculpas por isso.
Gilberto César Ortolan Bellini, mestre em Administração, professor da Fatec Sertãozinho e Unip RP, membro da ASEL - Academia Sertanezina de Letras.