Médico Infectologista detalha combate da COVID 19 em Sertãozinho

24/04/2020

Da Redação

A disseminação da COVID 19 é o assunto diário nas redes sociais, jornais e telejornais. Enquanto o Governo Federal luta para combater a pandemia do novo coronavírus, várias cidades estabelecem normas para o combate à doença. Em Sertãozinho, um dos médicos que está no grupo de enfrentamento é o infectologista Dr Lucas Agra. Ele concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Agora Sertãozinho onde destaca o número de leitos disponíveis para os pacientes na cidade e também orienta sobre o isolamento social.
É importante destacar as outras funções desempenhadas pelo médico Lucas Agra. Além de médico infectologista ele é supervisor médico da UE - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto; Diretor da Câmara Técnica do Médico Jovem - CREMESP, Médico da CCIH do HCRP - USP; Presidente do SCIH do Hospital Netto Campelo; Presidente do SCIH do Hospital Santa Lydia e diretor técnico da AGRA & FERREIRA INFECTO.
Confira o bate papo.

Jornal Agora Sertãozinho - Todos as cidades fizeram um levantamento no número de casos de COVID-19, aqui em Sertãozinho vocês estão preparados para atender quantos casos? Quantos leitos existem e quantos deles estão à disposição para pacientes com COVID-19? Os leitos são somente para pacientes com sintomas graves? Quais equipamentos existem nesses leitos destinados aos pacientes com COVID-19?

Dr Lucas Agra - Estamos trabalhando desde o início de março para permitir que Sertãozinho consiga atender a demanda nos diversos cenários.
Hoje, temos 5 leitos de UTI com isolamento respiratório para os casos mais graves de COVID-19 e quase 30 leitos de enfermaria para pacientes que precisam de internação por COVID-19.
Já encomendamos estudos de ampliação baseados na evolução dos casos na região, que nos permitiria atender mais 10-15 pacientes graves em UTIs, além do disponibilizado no momento.
O distanciamento social tem permitido achatar esta curva de explosão de casos graves, permitindo que os hospitais tenham capacidade de atender a demanda atual.

Jornal Agora Sertãozinho - O isolamento social que tanto se discute, é realmente necessário? Ou já se pode pensar em um outro tipo de isolamento?

Dr Lucas Agra - O distanciamento social é fundamental para reduzir a velocidade de disseminação da doença e permitir que o sistema de saúde tenha capacidade de atender aos casos que necessitem de avaliação decorrente da COVID19, mas também para continuar atendendo os casos de infarto, AVC, trauma, que não continuarão demandando atenção nos hospitais.
Nenhum modelo diferente do distanciamento social horizontal mostrou benefício no mundo: Inglaterra, Holanda e Israel tentaram por algum tempo realizar o isolamento apenas dos grupos de risco e o desfecho foi trágico. Resumindo, os três países voltaram atrás e atualmente cobram multa do cidadão que esteja circulando sem ações essenciais.
É verdade também que o momento e a força do distanciamento social são inferidos pela curva de casos novos na região. Mas é importante ajustar esta definição oportunamente, uma vez que a doença tem capacidade de rápida disseminação e possa trazer prejuízos irreparáveis para a sociedade, neste caso, a perda da vida.

Jornal Agora Sertãozinho - Como médico, analisando todas essas fake news que são divulgadas, o momento é para pânico ou o Brasil está trabalhando da maneira correta para prevenir o avanço da doença?

Dr Lucas Agra - Não é de hoje que as fakes news tem avançado para provocar medo ou reação na população. O pior é que quase sempre, as mentiras tomaram cunho político, e isto prejudica o discernimento por parte da população que se tornou devota de determinados políticos. Carregar a bandeira de que inventaram uma pílula que possa curar a COVID-19 é de extrema irresponsabilidade e charlatanismo. Atualmente, há mais de 300 estudos clínicos no mundo todo usando a cloroquina, sem nenhum até o momento demonstrar eficácia significativa. Ainda assim, estamos prescrevendo para os casos selecionados, independente do hospital ou da classe social do paciente, mas sem encher ninguém de falsas esperanças.
Um dado preocupante é que o Brasil, hoje, está exatamente igual à Espanha 22 dias atrás, que está chegando aos 20 mil óbitos! Nada na história recente matou tanto quanto a COVID-19 em um espaço tão curto de tempo. Isto é muito preocupante. Precisamos ter atenção para o retrato que recortamos de outros países.
Preocupa também a confusão que segue nas esferas federais quanto aos protocolos de distanciamento e disponibilização de insumos e exames para a população. Não há uniformidade na fala do próprio governo, o que provoca maior ansiedade na população. Não há respaldo à altura para as esferas inferiores a fim de que possam exercer o cuidado de forma segura e efetiva.
Precisamos confiar na boa vontade de quem coloca a vida das pessoas acima de qualquer questão econômica, como acontece no mundo todo, e acima disso, precisamos acreditar na ciência, nas pesquisas, e respaldar os profissionais de saúde para que conduzam a sociedade nesta tragédia global que escancara como e o quanto que vale sobreviver e ser livre.