Lancha desaparece com cinco amigos em expedição do Rio para Fortaleza

08/02/2021

Uma viagem que seria a realização de um sonho acabou virando um pesadelo para as famílias de cinco amigos — um gaúcho e quatro cearenses — que saíram de lancha embarcada do Rio de Janeiro para Fortaleza, no último dia 26. O grupo está desaparecido desde a madrugada do sábado (30), quando fez o último contato pedindo ajuda à Marinha do Brasil. Familiares acreditam que os tripulantes e embarcação estejam próximos à área de Vitória (ES), mas as buscas da Marinha ocorrem na circunferência do Rio de Janeiro. A expedição foi idealizada pelo empresário gaúcho Ricardo José Kirst, que comprou a lancha O Maestro, na semana passada. O empresário, apaixonado pelo mar e pela pesca, decidiu comprar a lancha por ser mais confortável e ter mais espaço para curtir passeios náuticos com a família e amigos. Para trazer a lancha, ele chamou os amigos cearenses Domingos Savio Ribeiro (empresário), Guilherme Ambrósio de Oliveira (comandante), José Cláudio de Souza Vieira (mestre de máquina) e Wilson Martins dos Santos (pescador). Todos eles, segundo a família de Kirst, têm experiência no mar e pescam juntos.

"Essa viagem é um sonho de vida do meu irmão. Ele se preparou com os amigos para a expedição. A tripulação é capacitada, treinada e tem um grande capitão. Meu irmão nunca fez nada de imprudente, tem muitos treinamentos e é nadador. Ele chegou a enviar fotos e vídeos e a ideia era ir fazendo imagens para depois publicar na internet, num canal no YouTube", contou Simone Marques Mello, irmã de Ricardo Kirst. A mulher de Ricardo Kirst, Tatiane, relata que acompanhou a compra da lancha junto com o marido e que o mestre de máquinas fez toda a revisão na embarcação para poder iniciar a expedição. "Foi feita toda revisão nos motores, com peças substituídas. Foram comprados novos o rádio e o GPS", afirma Tatiane, destacando que um dos tripulantes tinha feito o trajeto havia 40 dias.

A expedição estava prevista para durar entre 15 e 20 dias, pois o grupo iria fazer paradas para curtir trechos do percurso com gravação de imagens para serem publicadas na internet. Eles ainda chegaram a fazer alguns registros, mas logo no primeiro dia, a lancha apresentou um problema de entrada de ar em mangueiras no Rio de Janeiro, onde tiveram de ancorar para realizar o reparo.

"Eles não são aventureiros, são homens experientes com o mar, que amam a pesca e estavam numa expedição de lazer. Meu irmão é empresário naval e quis fazer essa travessia para ver como funcionava, pois o comandante Guilherme estava fazendo para vários empresários. Todos os cinco são muito amigos de pesca, de salvamento, são homens do mar. Acreditamos que eles estão na embarcação à deriva ou em uma ilha, mas a Marinha coloca como suposto naufrágio", conta Simone. Na quinta-feira (28), depois de resolvido o problema, eles seguiram viagem com destino à Vitória (ES). No entanto, na madrugada do último sábado (30), emitiram um pedido de socorro à Marinha do Brasil. Desde então, não foram localizados.

A última sinalização que a família recebeu do GPS da lancha foi próximo ao farol de São Thomé, em Campo dos Goytacazes (RJ). Mas, segundo acreditam os familiares, a lancha pode estar próxima ao Espírito Santo, levada pelas correntes marítimas.

"A sinalização que temos deles era em São Thomé no dia 29, mas eles já podem ter se encaminhado um pouco mais a Vitória porque em um dia tudo muda. Às 23h05 do dia 29, liguei para Domingos porque o celular de Ricardo estava descarregado, ele disse que Ricardo não estava bem, estava enfadado. Ele disse que o tempo estava muito feio, que molhou tudo, todas as documentações, roupas, comida e eles. Contaram também que um motor e o gerador pararam. Comentei 'não é melhor ir até a costa para poder trazer essa lancha em terra?' Ele disse que não tinha condições de ir à costa naquele momento, que tinham fundeado (ancorado)", explica Tatiane.

Às 7h do sábado, ela tentou contato novamente com o marido e a tripulação, mas não conseguiu. O GPS não emitiu mais informações da localização da embarcação. "Sai telefonando para todas as esposas dos tripulantes, montei um plano. Às 20h do sábado comecei as ligações para Marinha, Corpo de Bombeiros, capitanias dos portos do Rio de Janeiro e de Vitória, esta última falou que está fora da jurisdição. Não concordamos, precisamos de ajuda de Vitória porque como estava em destino a Vitória, eles podem estar na área", reforça Tatiana. A família do empresário destaca que todos os cinco tripulantes têm experiência com viagens náuticas e se prepararam para a expedição. Tanto Tatiane quanto Simone reclamam da falta de informações da Marinha do Brasil e da área que está sendo rastreada pelos militares.

"Eu sei que cada um deles está lutando para sobreviver, convivi com esse momento, da preparação à saída da lancha. Eles nadam, andam de bicicleta, são preparados fisicamente e têm experiência com o mar, não são aventureiros. Eles são conhecedores. Dei o endereço da casa deles, que é a marcação do GPS da embarcação, mas as buscas não ocorrem nesta área e há muita falta de informação", reclama Tatiane. "Estamos pedindo em nome das famílias, eu falando em nome de meu irmão, para que toda a população e comunidade pesqueira ajude, mas principalmente precisamos da ação da capitania dos portos de Vitória. Eles podem estar numa ilha. A embarcação pode estar à deriva como lancha embarcada, parada. Pedimos que haja outros tipos de buscas, com pescadores, rebocadores, apoio terrestre, da comunidade pesqueira e da capitania dos portos em Vitória. Eles se dedicaram uma vida e estavam na viagem dos sonhos", completa Simone.

(Com informações https://noticias.uol.com.br/cotidiano