HOMENAGEM

HOMENAGEM
20/12/2021

Eu, Rita Tonielo, dirigente do jornal Agora, fico muito feliz com a elaboração de cada página do nosso jornal e quando recebo uma poesia como essa para publicação e podendo assim realizar o seu sonho nos engrandece muito… obrigada, espero que vocês gostem, pois a vida é feita de poesia e quem nunca fez uma poesia nunca amou de verdade!

 

APENAS PROFESSORA PRIMÁRIA

 

Era eu ainda mais menina do que moça

Quando para o magistério ingressava

E desde cedo compreendia

Que era bem difícil a carreira que abraçava

 

Difíceis eram os caminhos

Cheios de pedras e espinhos

A jornada longa e esperançosa

Mas a vontade de vencer era franca e impetuosa

 

Aos dezoito anos a cidade grande deixei

Bailes, festas, clubes, passeios, a tudo renunciei

Para ir até às crianças do campo

Às quais tudo que pude ensinei

 

Era bem longe, bem longe mesmo

A minha primeira escolinha

Naquele tempo não havia nem uma estrada sequer

Que chegasse ali por perto tendo por condução

Sempre um baio ou um alazão.

 

Nada disso me preocupava

Pois no fundo até que eu gostava

Sentia-me muito feliz

Sabendo quanto útil ali eu era

Todos de mim se acercavam

E todos de mim precisavam

 

Cada dia que passava

Sentia crescer em mim uma nova esperança

Via em cada criança aquela firme confiança

Naquilo que lhe falava

 

Logo pude avaliar

Como era importante o que eu devia ensinar

Se fosse uma boa semente plantada no coração

Frutos bons cresceriam

Coroada de êxito estava minha missão

 

Por isso sempre pedia a Deus

Que me desse muita paciência

Para ministrar as lições

Com alegria e eficiência

 

Hoje trinta anos são passados

Mais de mil alunos alfabetizei

Para cada um deles

Mais do que o saber eu dei

 

Como eles ficaram parte do meu ser

Levaram muito amor que eu lhes dei

O meu carinho e dedicação

A todos eles entreguei

 

Durante minha existência

Sempre em educar me preocupei

Outros cargos poderia atingir

Mas nunca os almejei

Pois acho que me realizei na profissão que abracei

 

Hoje deixo-os feliz, pois convicta estarei

Que tudo fiz, nada deixei a fazer

Sei que nada terei em minha memória

Honras, marcos não terei

Como milhares de professores anônimos, ficarei...

 

Às minhas crianças e amigas

Que comigo batalharam

O meu adeus comovido

Pois no convívio diário

Deram-me muita alegria

Falta sentirei dessa agradável companhia

 

Dos meus alunos queridos

Muitos não se lembram do meu nome e nem de mim

Mas no fundo de suas almas um dia penetrei

E ali bem num cantinho está o bem que lhes ensinei

Porque o testemunho da mensagem do Senhor

Não é Ele o Professor?

 

Ophélia Ricciardi Ferreira

Discurso de sua aposentadoria em 25/06/1976

 

(A autora está hoje com 94 anos e absolutamente lúcida)