AMÉRICO PERIN

07/07/2025

Na época do descobrimento, o que existia em matéria de música nas terras do nosso país eram as que os índios faziam. E, no intuito de catequizá-los, salvar-lhes as almas, os jesuítas destruíram sua cultura e assim perdeu-se para sempre grande parte do acervo cultural dos habitantes originários do Brasil.

Nesse período, do descobrimento até alguns anos depois, o que se ouvia tanto nas altas rodas da sociedade que começava a se formar, como na população em geral, eram músicas vindas da Europa.

Com a chegada dos trabalhadores escravizados, vieram também seus tambores, atabaques etc., que eles tocavam à noite nas senzalas, na esperança de que seus Deuses lá da África viessem salvá-los.

Imaginem a situação: portugueses recém-saídos da idade das trevas, da idade média, a maioria muito supersticiosa, à noite dentro de suas casas ouvindo aqueles batuques e músicas estranhas, cujas letras eles não conseguiam entender. com certeza deveria ser apavorante...

Contudo, com o enriquecimento dos fazendeiros, eles começaram a importar maestros da Europa, na esperança de se igualarem aos costumes dos nobres da época. Então, surgiram orquestras nas suas fazendas, formadas por trabalhadores escravizados, que aprendiam a tocar os instrumentos europeus e as músicas também tocadas nos grandes teatros europeus.

Isso aconteceu lá pelo período clássico e o romântico da música. E, logo surgiram os festivais, encontro de orquestras, que disputavam quem seria a vencedora do evento, para orgulho do fazendeiro a que ela estava ligada! Agora, imaginem a cena: todos os músicos vestidos como europeus, inclusive com aquelas perucas brancas horrorosas, porém descalços, pois não havia calçados que coubessem nos seus pés.

Bem, acontece que, com o tempo passando, alguns escravizados já possuíam seus ofícios, ganharam a liberdade e se mudaram para as cidades. Ali, se estabeleceram como alfaiates, barbeiros etc. Mas, no fim do expediente, 5 horas da tarde mais ou menos, cada um pegava seu instrumento e ia se juntar aos vizinhos nas calçadas, onde tocavam as músicas que haviam aprendido nas orquestras com os maestros europeus. Tudo ia indo bem, até que, num certo dia, um deles tocou alguma coisa que não estava na partitura e os outros

responderam da mesma forma. Aquilo ficou conhecido como A MÚSICA DOS BARBEIROS e estabeleceu-se que, aí está propriamente dito o nascimento, o início da MÚSICA BRASILEIRA.

Com o passar dos anos, e com a abolição da escravatura, muitos daqueles trabalhadores, então libertos, saíram do Norte e Nordeste e vieram em direção ao Rio de Janeiro. Essa época coincidiu com a volta de Dom João e toda sua Corte para Portugal. Isso foi em 26 de abril de 1821 e, diga-se de passagem, que levaram junto com eles todo dinheiro que estava no Banco do Brasil!!!!

Bem, falando de música, ocorreu que as pessoas que chegavam ao Rio de Janeiro não tendo onde morar encontraram os casarões abandonados pelos nobres vazios e neles se instalaram. Uma das senhoras, que também fora beneficiada pela Lei Áurea, cozinhava muito bem e conseguia acolher as pessoas. Problema de moradia e refeição resolvidos. Mas não tinham trabalho. Naturalmente, alguns problemas (que não serão abordados hoje) surgiram. Mas todo aquele que fosse encontrado carregando um violão era preso e apanhava da polícia, pois era considerado ladrão e vagabundo... Mas... Onde eles iriam arrumar trabalho? Logo após a abolição da escravatura, esse foi um enorme problema que tiveram de resolver.

O jeito encontrado para contornar a situação foi tocar no fundo dos quintais, de onde a polícia não poderia ouvir os sons (alguém já percebeu a causa do surgimento do Samba do Fundo de Quintal?).

E a evolução da música continuou, cada vez mais se abrasileirando a forma de interpretar as canções e as letras.

Em determinado momento, surgiu um ritmo, muito dançante, mas que logo foi proibido a bem dos costumes, pois dançava-se batendo os umbigos!!!! O MAXIXE!!!

Bem, agora a revelação do grande segredo: O Semba (ops, eu falei Semba?!)... Sim, o Semba foi trazido pelos homens capturados na África e, com algumas modificações decorrentes do tempo e dos costumes, hoje é conhecido no Brasil com este ritmo, que todos conhecemos: o samba!

Daí para um novo ritmo, mais lento, músicas compostas na maioria das vezes pela dor de cotovelo, eis que nasce o samba-canção.

Nesse instante da história da nossa música, aconteceu que, por força de necessidade imposta pela segunda grande guerra, pois, considerando que os aviões daquele tempo não tinham grande autonomia de voo, os norte-americanos fixaram uma base militar no litoral norte do Brasil, pois dali a distância até o continente europeu era menor. Como nos quarteis daquela época só haviam homens confinados, os comandantes norte-americanos resolveram por bem abrir os portões da base militar para toda a população poder entrar e, ao som das “Big Bands”, aconteciam grandes bailes, que ajudavam manter alta a moral dos soldados. Com a abertura dos portões, aqueles bailes eram chamados de “Para Todos”, “For All” em inglês. E o modo de fazer música brasileira também entrou naqueles quarteis e deixou sua influência, assim como a música dos americanos também deixou por aqui. E o “For All”, abrasileirado, passou a ser conhecido pelo povo como “Forró”!

Passados mais alguns anos, nossa música recebeu um certo toque de sofisticação e era tocada com uma batida mais suave, porém sem se distanciar muito da cadência trazida pelo Semba. Era a bossa nova, que, junto com ela, trouxe uma enorme polêmica na época, pois era composta “num cantinho de um apartamento, com somente um violão e uma voz que contrastava muito com os vozeirões dos cantores da época.” E a música considerada como marco inicial deste gênero é Chega de Saudade, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.

E a bossa nova venceu. Para quem não sabe, foi muito bem aceita na América do Norte e gravada até por grandes nomes de lá, por exemplo, o próprio Frank Sinatra, que se apaixonou pela nossa Garota de Ipanema e gravou-a junto com nosso Tom Jobim.

Bem, nessa mesma época, ouvia-se também no Brasil um novo som, o das guitarras elétricas, que também foi alvo de muita polêmica pois soava diferente ao dos violões, tão apreciados pelos ouvintes da época. Contudo, a guitarra também ganhou seu lugar na preferência popular e enriqueceu um novo gênero musical que estava aparecendo e ficou conhecido como o “som da Jovem Guarda”.

Considerações finais: a BOA música tem como base três elementos: o ritmo, que foi trazido pelos africanos, a melodia, trazida pelos orientais, e a harmonia, dos europeus. Sem contar a poesia de bom gosto, cantada nas letras.

Atualmente, ainda temos no Brasil bons compositores. Contudo, por interesses que não é o momento para se discutir, essas produções não são levadas ao grande público e, portanto, eu dou aqui por encerrado este nosso breve momento musical.