AMÉRICO PERIN

13/10/2025

No Brasil, futebol e política são irmãos gêmeos separados na maternidade e reunidos no circo. Ambos têm torcida fanática, promessas mirabolantes e resultados decepcionantes. A diferença? No futebol, o juiz apita. Na política, o juiz é comprado, vendido, aposentado ou esquecido.

O técnico político entra em campo com seu plano de governo — que mais parece um esquema tático de pelada: “todo mundo pra frente, Deus nos ajude atrás”. Escala ministros como quem escolhe jogador por afinidade: “Esse aqui é bom de churrasco, vai pra Defesa”.

O Congresso é o vestiário: cheio de gente trocando de camisa, negociando posição e reclamando do técnico. O povo? O povo é o massagista — trabalha, carrega, cuida, mas nunca entra em campo.

A oposição é como aquele time que só joga contra: não tem proposta, mas tem chute no tornozelo. Já os aliados são como zagueiros ruins: atrapalham mais do que ajudam, mas continuam titulares porque têm bom relacionamento com o patrocinador.

Eu sei que tem time com muita sorte. Quase sempre perdendo o jogo, no último momento o juiz marca um pênalti em seu favor. Se está perdendo vai pro empate, se está empatado ganha o jogo. Se estiver perdendo com alguns gols do adversário, o juiz prorroga o tempo.

Eu também sei que tem político com muita sorte. Jogou a diplomacia pra escanteio e partiu de qualquer jeito pra cima do adversário. O outro é mais forte, e muita gente viu na atitude do primeiro um grande gol contra. Contudo, o adversário forte, superestimando sua força, foi se antipatizando até dentro da sua própria torcida e, para sorte do técnico despreparado, o jogo parece ter começado a virar... Dizem que até já dispensou o caminhão (pau de arara) e não pensa mais em voltar pra sua terrinha.

E, quando o escândalo estoura, vem a coletiva: “Foi um erro técnico”, “Não sabíamos da irregularidade”, “A culpa é da gestão anterior”. É o famoso drible da responsabilidade. Enquanto isso, o povo segue na arquibancada, pagando ingresso caro pra ver o mesmo jogo ruim de sempre.

E, no campeonato da vida pública, o povo nunca levanta a taça. No máximo, levanta a mão... Pra pedir o socorro que nunca vem...