CRISTIANE FRAMARTINO BEZERRA

Exupéry além do “O pequeno príncipe”
29/09/2025

Dos muitos mestres e aprendizados que trago na alma, um dos mais significativos, para quem uso as palavras do biógrafo Marcel Migeo para definir, é Antoine de Saint-Exupéry, “herói quase legendário da segunda guerra mundial, “um dos homens mais transcendentais do seu século”!

Algumas pessoas ouviram falar sobre Exupéry por causa de uma das suas mais famosas obras, “O pequeno príncipe”, que de fato apresenta valores como respeito à amizade, cuidar de quem se ama, preservar sua rosa, avaliar expectativas e compromissos! Porém, cedo fui apresentada pelo jornalista Wilson Toni a um Exupéry que sentia na alma as dores do mundo, que refletia sobre os verdadeiros princípios humanos, o essencial por vezes tão invisível aos olhos. Para além da obra singela e infantil, para homens e mulheres de qualquer idade, Antoine deixou obras muito significativas, que retratavam todo seu encanto pela aviação e pela humanidade. Pela fragilidade das pessoas, pela dicotomia do ser que era capaz de “num dia reunir todo seu vilarejo para salvar a vida de um único homem que caiu num poço e dias depois, se deflagrada uma guerra e aquele mesmo homem estivesse numa frente de batalha oposta, seria morto por aquela mesma vila e aquelas mesmas pessoas, sem a menor piedade...”

“Piloto de Guerra”, “Correio Sul”, “Voo Noturno” (livro este que conta a história de um piloto seu amigo, Fabien, que percebe estar diante da fatídica morte pela falta de combustível e simplesmente direciona seu avião rumo às estrelas, até desaparecer na noite escura... Sinto no meu coração, que foi exatamente assim que ele mesmo morreu ao ter seu avião atingido em combate, durante a segunda guerra mundial... Simplesmente deve ter tentado de todas as formas seguir rumo às estrelas que tanto amava...). “Terra dos Homens” e “Cidadela” são livros que me ensinaram ainda mais sobre sensibilidade, afeto, eliminar julgamentos, riquezas inigualáveis que um sorriso e um abraço podem oferecer.

De todos os seus escritos, Terra dos Homens, para mim, é um dos mais brilhantes. Exupéry narra uma de suas longas viagens de trem. Diante de si, um casal e um menino de 5 ou 6 anos. Ele observa que durante os três dias em que estiveram ali, frente a frente, o casal mal trocou algumas poucas palavras. O menino, sonolento, nada exigia, apenas deixava-se pender sobre o colo da mãe. Ele observa aqueles rostos endurecidos pelo sofrimento, pela guerra que fazia todos ficarem apreensivos e cansados, havia muitos soldados no mesmo trem, abatidos e que refletiam em seus rostos desalento... Exupéry reflete sobre como deve ter sido o encontro daquele casal, se no início daquele relacionamento o homem havia levado flores àquela mulher. Se sorriam juntos e sonhavam... E aquele menino... Mozart menino poderia ter sido parecido com ele. Porém, o que lhe parecia ali é que haviam entrado os três numa estranha máquina de entortar homens. Pensa que o destino de uma flor muitas vezes era melhor do que o daqueles seres. Porque em muitas casas podia-se notar o movimento de jardineiros podando árvores e flores, mas que não há jardineiros para os homens, para cuidar para que não endureçam ou murchem, não desistam de seus sonhos...

Fala sobre respeito pela Humanidade. Que o respeito aos seres deve sempre estar na “primeira ordem do dia”!...

Ah, demandariam páginas e páginas do jornal para apresentar as preciosas reflexões de Terra dos Homens ou mesmo de Cidadela, publicado quatro anos após sua morte, com os escritos deixados por ele... Cidadela era para Exupéry o ponto alto de suas publicações, acreditava que demandaria ainda muitos anos para finalizar suas conjecturas sobre a Humanidade, os sonhos, as marcas das suas próprias experiências, a solidão, o silêncio, as imagens do deserto, tédio, morte, prazer, liberdade, o sentido da vida e até mesmo Deus. Há estudiosos que percebem uma busca intensa por Deus nesta sua última obra...

Sempre questionador e inquieto, especialmente como aceitar multidões em festa, quando retornava de um combate bem sucedido na guerra, se seu coração se esmagava por ter que matar outros seres humanos, apenas por estarem do lado oposto, em outra frente tida como inimiga...

Antes da sua última batalha, quando desapareceu para sempre, deixou um bilhete escrito em sua escrivaninha... “Se eu voltar vivo desta batalha, que considero injusta, mas é meu trabalho, o que direi para a Humanidade? O que dizer da Humanidade”?

Recomendo a leitura das obras de Antoine de Saint-Exupéry, além do lindo O Pequeno Príncipe, para que também possamos trazer a alma inquieta diante da fragilidade humana, que necessita urgentemente se olhar como uma grande e única irmandade, onde territórios não deviam ser disputados indiscriminadamente causando tanta dor e sofrimento, mas sim, estarmos todos lutando por soluções para a fome, doenças, miséria, dores que afligem pessoas perto ou longe da gente. E muitas vezes simplesmente seguimos, sem achar que é conosco ou nossa responsabilidade!

Respeito pelo Homem! O Respeito pela Humanidade precisa prevalecer acima das diferenças!

Muito Amor e Luz pra você!

 

Cristiane Framartino Bezerra

Historiadora de Religiões, Escritora, Cerimonialista, Celebrante, Produtora Cultural, Angelóloga

Atendimento Angélico Presencial em Ribeirão Preto e Sertãozinho e à distância, agendar pelo whats: 16 999941696.