Dormir bem faz bem!
Rita Tonielo
Ultimamente com tantas mudanças na rotina, o que anda acometendo muito na vida dos brasileiros é a perda do sono. Com a pandemia, o aumento das queixas de insônia já era esperado pelos especialistas, já que as noites em claro muitas vezes estão associadas ao stress, à ansiedade e à depressão.
Para discutir esses efeitos indesejados, entrevistamos o especialista em medicina do sono e responsável pelo Ambulatório do Sono do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Alan Luiz Eckeli.
O que é um distúrbio do sono?
Dr Alan Luiz Eckeli: distúrbios do sono ou doenças do sono, são condições clínicas que ocorrem no sono, ou se relacionam com sono, que promovem um comprometimento na qualidade de vida do indivíduo.
Com a pandemia houve um aumento da insônia?
Dr Alan Luiz Eckeli: sim, houve. A pandemia é um evento estressor agudo que todos estamos submetidos, todo planeta está sofrendo nessa nova condição. A pandemia compromete o que imaginamos para o amanhã, nos faz entender o pequeno controle que temos sobre o futuro, o quanto somos frágeis e quanto necessitamos da sociedade para termos uma vida de qualidade. Em conjunto, isso pode nos levar a sintomas de ansiedade e angústia, que, por sua vez, podem se manifestar como insônia.
Quais o distúrbio do sono mais comum?
Dr Alan Luiz Eckeli: hoje a Apnéia do Sono é a mais comum. Ela acomete um terço da população adulta brasileira, ou seja, uma pessoa a cada três tem essa doença. Ela pode se manifestar na forma de ronco, sonolência, cansaço, fadiga, prejuízo da memória, redução de libido e potência sexual, engasgos durante o sono, piora do refluxo e outros sintomas.
O que é insônia?
Dr Alan Luiz Eckeli: insônia pode ser definida como uma dificuldade para iniciar o sono, a presença de múltiplos despertares, ou um despertar precoce promovendo um prejuízo para indivíduo.
Insônia tem tratamento?
Dr Alan Luiz Eckeli: sim, e ele é muito efetivo. O tratamento de insônia pode ser dividido em medicamentoso e não medicamentoso. O uso de medicamentos pode ser indicado em situações específicas e deve ser utilizado sob supervisão médica. Lembramos que o uso inadequado de medicações que induzem o sono pode causar dependência química e, até mesmo, prejuízo de memória e acidentes. Quando pensamos no longo prazo, o tratamento não medicamentoso é o mais efetivo. Utilizamos uma técnica chamada Tratamento Cognitivo Comportamental para Insônia. Ela é um conjunto de técnicas e práticas para manejo, controle e tratamento da insônia. De acordo com a literatura científica, sua eficácia é superior ao uso de remédios, sendo a ferramenta mais eficaz para o tratamento da insônia.
O que é sonambulismo?
Dr Alan Luiz Eckeli: é uma doença do sono caracterizada pelo caminhar durante o sono. Esse fenômeno ocorre mais em crianças e pode estar associado com acidentes em casos mais graves. Assim, muitas vezes, a avaliação especializada pode ser necessária.
Quantas horas de sono eu preciso para ter um bom sono?
Dr Alan Luiz Eckeli: o número de horas de sono varia para cada pessoa. Para a grande maioria fica entre 7 a 8 horas. Alguns poucos indivíduos são dormidores curtos e dormem menos de 6 horas por dia. Outros podem ser dormidores longos, dormindo 10 horas ou mais por dia. Sabemos que o número de horas é bom, quando essa quantidade de sono é o suficiente para termos um dia produtivo e agradável.
Como é relação do uso do celular e o sono?
Dr Alan Luiz Eckeli: o celular é hoje uma ferramenta importante no nosso dia a dia, seja para trabalho ou lazer. Nunca antes na história da humanidade nos relacionamos tanto com um objeto, passamos diariamente horas usando-o. Porém, seu uso abusivo pode promover repercussões no sono, pois a iluminação de sua tela à noite pode inibir a produção endógena de melatonina, hormônio importante relacionado ao sono.
Quando saber que não estou bem com o sono e preciso de ajuda?
Dr Alan Luiz Eckeli: um boa noite de sono propicia um bom dia de atividades. Assim, uma das melhores maneiras para sabermos se estamos tendo uma boa quantidade e qualidade de sono é avaliarmos se durante o dia estamos motivados, com energia, atentos, alegres e empáticos. Se isso não estiver ocorrendo, existe a possibilidade que você possa ter um comprometimento do sono. Um sono de boa qualidade reflete diretamente em uma boa qualidade de vida, quando isso não acontece, esse é o momento de procurar um profissional habilitado.
A menopausa altera o sono?
Dr Alan Luiz Eckeli: na menopausa as alterações hormonais podem promover uma piora da qualidade do sono, manifestando-se principalmente na forma de insônia. A presença dos “calorões” durante esse período dificulta o início do sono ou causam despertares no meio da noite.
É verdade que quanto mais velho menos sono?
Dr Alan Luiz Eckeli: é verdade. Porém, a redução do tempo total de sono nos idosos é numericamente pequena, algo próximo de 30 minutos. Porém, nessa faixa etária a presença de comorbidades e o uso de muitos medicamentos podem promover uma redução da qualidade de sono.
Remédios para dormir, quando é necessário?
Dr Alan Luiz Eckeli: como regra, nós não devemos fazer uso de medicações para dormir. O uso é restrito para casos específicos durante períodos breves, e sempre sob supervisão médica. De maneira geral nós subestimamos o quanto uma boa rotina de sono pode auxiliar para termos um bom sono. E lembramos que muitos medicamentos podem causar dependência química e comprometer nossa memória.
Quem eu procuro quando tiver um problema do sono?
Dr Alan Luiz Eckeli: você deve procurar um médico especialista em Medicina do Sono. Essa é uma especialidade nova feita após uma especialização. Habitualmente o especialista em sono pode ser um neurologista, otorrino, pneumologista ou psiquiatra.