BETO BELLINI
O Dia dos Pais é tradicionalmente marcado por homenagens, presentes e almoços em família. Mas, por trás da celebração, há uma reflexão cada vez mais urgente: qual é o verdadeiro papel do pai na vida dos filhos e na dinâmica familiar?
Durante décadas, o pai foi visto como o provedor silencioso — aquele que sustentava o lar, mas pouco participava da rotina emocional dos filhos. Era ele quem saía cedo, voltava tarde e, muitas vezes, era lembrado mais pelo silêncio do que pela presença. Mas essa visão está ultrapassada — e precisa ser confrontada, especialmente em datas como o Dia dos Pais.
Ser pai não é apenas pagar boletos ou garantir o sustento da casa. É estar. É ouvir, acolher, brincar, ensinar. É participar da rotina, dos dilemas, das conquistas e das dores dos filhos. A presença física e emocional do pai é um dos pilares mais importantes na formação de uma criança. E não, isso não é “ajuda” — é responsabilidade.
Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade que romantiza a ausência paterna como se fosse sinônimo de sacrifício. Mas o verdadeiro sacrifício é abrir mão da convivência, da troca, do afeto. E isso não pode mais ser normalizado.
Felizmente, em casa, sempre tivemos um pai muito presente, mesmo sendo médico com rotinas sempre perto de 12 horas de trabalho diário, e esse exemplo nos moldou para nossa função paterna.
Estudos mostram que a presença afetiva do pai contribui diretamente para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças. Crianças que crescem com pais presentes tendem a ser mais confiantes, empáticas e resilientes.
Essa transformação também se reflete no mercado. Em 2024, o Dia dos Pais movimentou cerca de R$ 7,7 bilhões no varejo brasileiro, com destaque para o setor de beleza e bem-estar, que respondeu por R$ 1,51 bilhão das vendas. O crescimento é impulsionado por uma nova geração de pais que valoriza o autocuidado — seja com loções para barba, kits de skincare ou experiências relaxantes.
Segundo especialistas, essa busca por produtos de estética e cuidados pessoais não é apenas vaidade: é uma forma de se reconectar consigo mesmo, de se sentir bem para cuidar melhor dos outros. O autocuidado masculino está em alta, e o Dia dos Pais virou uma vitrine para essa mudança de comportamento.
Perfumes, eletrônicos e calçados continuam entre os itens mais vendidos, mas há uma tendência clara: os consumidores estão buscando presentes que criem conexões significativas. Kits personalizados, experiências gastronômicas e produtos voltados ao bem-estar são cada vez mais populares.
Além disso, o conceito de “figura paterna” se expandiu. Hoje, padrastos, avôs, tios e até amigos próximos são reconhecidos como pais afetivos — e também celebrados na data.
O Dia dos Pais é mais do que uma data comercial. É uma oportunidade de reconhecer o valor da presença, do afeto e da construção de vínculos. E, ao mesmo tempo, de celebrar o homem que se cuida, que se reinventa e que escolhe estar — não apenas prover. Claro, os presentes fazem parte da celebração. Mas nenhum perfume ou eletrônico substitui o valor de um abraço sincero, de uma conversa olho no olho, de um “eu te amo” dito sem vergonha. O que os filhos mais desejam — e o que os pais mais precisam oferecer — não está nas vitrines, mas na convivência.
Gilberto César Ortolan Bellini, mestre em Administração, professor do curso de Gestão Empresarial da Fatec/STZ e da Unip/RP, membro da Asel – Academia de Letras de Sertãozinho