Dia do Uso Racional de Medicamentos levanta debate sobre infecções resistentes

Médico alerta para risco de automedicação e consumo abusivo de antibióticos – Brasil registra resistência a tratamentos e mortes
5 de maio é o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos e a data alerta para um problema que já ameaça gravemente a saúde pública – as infecções resistentes a medicamentos que levam a tratamentos e internações mais prolongados, além de mortes. O Brasil já registra milhares de óbitos anuais por resistência antimicrobiana (RAM), e o uso indiscriminado de medicamentos é um dos principais agravantes deste cenário.
O médico dermatologista Weber Coelho alerta que muitos dos casos de mortes são ocasionados por infecções que poderiam ser tratadas. Dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e mestre em Dermatologia pela USP, ele defende que o médico tenha um papel mais proativo neste cenário alertando os pacientes sobre o abuso de antibióticos. “Lidamos diariamente com este problema nos consultórios.
Não são raros os casos de pacientes que usam antibióticos frequentemente e/ou de forma prolongada para acne, por exemplo, ou casos de foliculites, feridas crônicas e infecções superficiais que deveriam ser abordados com prescrições terapêuticas mais eficazes e tecnicamente adequadas. Há um exagero no uso de antibiótico tópico para diversas doenças de pele que não são infecciosas, mas, sim, inflamatórias. E tenho alertado pacientes sobre muitos medicamentos que por serem consumidos indiscriminadamente que já não trazem resultados”, explica.
Outro problema, segundo o dermatologista, são as pressões de pacientes por soluções baseadas em notícias sem embasamento cienbtífico, orientações sem o merecido critério ou busca de resultados rápidos. “O paciente, muitas vezes desconhece que a RAM diminui seriamente as alternativas terapêuticas”, alerta.
RAM no Brasil e no mundo
No Brasil, a (RAM) é responsável por um número significativo de mortes, somando cerca de 34 mil óbitos diretamente atribuídos à RAM, mais de 220 mil mortes por infecções bacterianas e outros 400 mil casos de sepse ou septicemia (infecção generalizada) a cada ano.
O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2024 cita publicação da respeitável The Lancet de 2022 que estimou 4,95 milhões de mortes atribuídas a RAM e 1,27 milhões de mortes associadas a infecções por micro-organismos resistentes a medicamentos em 2019 – o estudo analisou 204 países e territórios naquele ano. E ainda destaca que a cada cinco mortes uma ocorreu em criança com menos de 5 anos de idade.
O que é RAM
A RAM é o fenômeno em que microrganismos, como bactérias, vírus, parasitas ou fungos, sofrem alterações quando expostos a antimicrobianos (antibióticos, antifúngicos, antivirais, antimaláricos ou anti-helmínticos, por exemplo) e tornam-se resistentes a eles. O uso indiscriminado de medicamentos é um dos principais causadores da RAM.
A RAM é um fenômeno esperado em decorrência da variabilidade genética e da interação bacteriana no meio ambiente. Porém, a prescrição e uso indiscriminado de antimicrobianos na saúde humana, na saúde animal e na produção de alimentos, o descarte incorreto de medicamentos, que contamina solo e água agravam seriamente este cenário.
Blanche Amancio Silva
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