De passagem

08/11/2021

 

Naqueles anos incríveis, lá nos EUA e muito apropriadamente chamados pela Rede Globo de ‘Anos Dourados’ aqui no Brasil, vivia-se uma euforia muito gostosa, pois nos EUA a grande depressão dos anos 30 terminara em 1947. O nazismo tinha sido vencido, os efeitos da guerra eram psicológicos (não que isso não seja dolorido). Os americanos, os maiores compradores do mundo, voltaram aos shoppings, na Europa a reconstrução econômica ensejava muitas esperanças e a juventude esquecida do holocausto e agora vivendo no fausto começa a criticar o sistema, achando que a vida era um tédio, pois estava tudo pronto, bastava fazer a faculdade, comprar uma casa, colocar os filhos na faculdade e esperar a morte. Foi então que essa juventude influenciada pelos filósofos da ‘Escola de Frankfurt’ começou a grande revolução contra o sistema e os pais e avós dessa juventude não entenderam nada e pensavam: deixamos um mundo melhor para essa geração e ela nos ofende e reclama, só podem ser ‘rebeldes sem causa’.

Na realidade eles tinham várias causas, ou bandeiras de luta, todas elas ainda hoje estão na moda porque tudo começou com essas ‘crianças terríveis’ da geração que eu orgulhosamente faço parte:

 

- A luta contra o racismo;

- O machismo;

- As questões climáticas;

- O abandono da velha política: comunismo x capitalismo;

- E o eterno desejo de sermos sempre jovens.

 

Mas, para o bem dos jovens de hoje a minha geração já está se apresentando diante de Deus, para prestar contas. Foi nesse contexto que no Brasil tivemos os anos JK, um crescimento astronômico de 13% ao ano e ainda tínhamos na política a democracia: Juscelino construiu Brasília em 5 anos, contra tudo e contra todos, pois os EUA colocaram-se contra a finalização da cidade em tão pouco tempo. No futebol éramos bicampeões, no tênis Maria Esther Bueno dava show, Marta Rocha, a nossa eterna miss Brasil era um sucesso (na Dona Zinha há um bolinho que leva o seu nome). A jovem guarda nos alegrava e nos dava a ideia de modernidade. Surgiam os supermercados chamados na época de pegue-pague.

A primeira grande loja de departamentos, orgulho nacional, o Mappin. Na música criamos, pelo menos, dois grandes estilos: a bossa nova e o clube da esquina e, lógico, somos um país de grandes cantoras. Como se vê, o desenvolvimentismo nacionalista de JK enchia o Brasil de esperança até a UDN (inimiga eterna do populismo) e que ganhou o apelido apropriado de banda de música por ficar orquestrando a oposição e sempre delirando corrupções também calou a boca diante do crescimento econômico realizando a partir de um presidente capaz de criar um grupo de estudos (GEIA) e de planejar corretamente o crescimento do país.

Em tempo, para quem não sabe, na música, a banda de Chico Buarque é dela e do golpe militar que ele está falando. Vejamos, todos pararam para ver a banda passar, e depois que a banda passou tudo tomou seu lugar, ou seja as promessas de um mundo melhor deram lugar ao tédio que a juventude tanto temia, mas resta uma pergunta: como foi possível a Nonô (apelido carinhoso que o povo deu ao JK) continuar a industrialização getulista se, naquela altura, o Império era contra a industrialização dos países periféricos? A resposta é, como sempre, o contexto internacional e o trabalho da nossa elite local. No mundo estavam surgindo as multinacionais, portanto era importante trazer as empresas para o Brasil para, no bom sentido, produzir aqui o que antes era importado e  explorar a nossa mão de obra barata.

Logo se percebe que um presidente não tem apenas que ser competente, mas também é preciso ter sorte. A segunda parte da resposta fica por conta da magistral capacidade dos economistas de JK que fugiram da dicotomia, ‘socialismo ou barbárie’ que significava, repito, naqueles anos 60, que o Brasil ou ia para o socialismo ou continuaria no capitalismo tardio. Kubitschek e seus intelectuais resolveram esta tola charada de maneira simples (estou sendo irônico, foi difícil) optando pelo liberalismo mais profícuo.

Os trabalhadores vão melhorar de vida por meio do trabalho, da facilidade de crédito e, portanto, com o aprimoramento do sistema alcançarão, um dia, melhores salários. Como se vê, a minha geração baby boomer, não era tão alienada e, de alguma maneira, ajudou a escolher um caminho para a nossa Pátria.

 

Autor: Egydio Neves Neto