Bruxismo

Bruxismo
15/03/2022

 Entrevista com Dr. André Marcelo Peruchi Minto (CROSP: 40915)

 O que é bruxismo?

O termo bruxismo, adotado pela Odontologia, deriva de “bruchein”, palavra grega que significa atrito, fricção ou aperto dos dentes, fora das funções normais. Trata-se, portanto, de uma patologia caracterizada pela parafunção ou hiperatividade involuntária da musculatura da mastigação.

 Quais são as causas?

A etiologia (causas) não é específica, sendo, portanto, considerada uma desordem complexa e multifatorial, em que coexistem fatores predisponentes, como locais, sistêmicos, psicológicos, ocupacionais e hereditários, acrescidos de um fator preponderante chamado estresse emocional. Os estudos realizados apontaram o estresse como o principal causador do problema, assim como problemas emocionais, agressão reprimida, ansiedade, raiva, medo e diversos tipos de frustrações, depressão, distúrbios do sono, falta de higiene do sono, uso de psicofármacos ou estado de dor (crônica em especial). Inicialmente, atribuiu-se, como causa de bruxismo, as desordens oclusais, como oclusão traumática, desarranjos de articulação dental e contatos prematuros. Entretanto, esses fatores nem sempre estão presentes. Existe, também, grande prevalência do evento de bruxismo em crianças com processos alérgicos nas vias aéreas superiores. Por outro lado, transtornos neurológicos, como transtornos do déficit de atenção, disfunções bioelétricas e síndromes que afetam o sistema nervoso central, como Síndrome de Down, estariam significativamente associadas às manifestações de bruxismo em crianças.

 Quais os tipos de bruxismo?

O bruxismo constituiria um hábito parafuncional oral, uma vez que ocorreriam contatos dentais fora das funções normais, podendo manifestar-se sob a forma de ranger ou de apertar os dentes. O bruxismo poderia ser classificado, de acordo com o tipo de prevalência de contração muscular, em cêntrico e excêntrico. O bruxismo cêntrico, ou apertamento dentário, consistiria em manter os dentes cerrados de forma contínua por um determinado período, também chamado de bruxismo de Vigília ou Diurno. Na outra modalidade, o bruxismo excêntrico, ou seja, ranger dos dentes, o processo ocorreria durante o sono, sendo, portanto, Noturno. Entretanto, nada indica que não possa haver inversão ou, ainda, que o indivíduo apresente as duas formas de bruxismo. Outras classificações ainda são propostas, como os bruxismos primário e secundário. O bruxismo primário é idiopático e não está associado a uma causa médica evidente, psiquiátrica ou sistêmica, enquanto o bruxismo secundário está relacionado com um transtorno clínico, sendo ele neurológico (como a doença de Parkinson) ou psiquiátrico (em casos de depressão), transtornos de sono (como a apneia) e a fatores iatrogênicos, que incluem o uso ou retirada de drogas. Há, ainda, aqueles que classificam o bruxismo em crônico (sem dor) ou agudo (com dor).

 Como saber se tenho bruxismo?

O bruxismo é uma doença de características multifatoriais que podem ocasionar desgaste oclusais severo, devendo o clínico estar atento aos diversos sinais e sintomas para um correto diagnóstico. Alguns dos sinais que podem ser apresentados pelos pacientes seriam caracterizados pela hipertrofia muscular e a presença de desgaste nas bordas incisais nos dentes 20 anteriores. Este é o alerta primário para a presença do dano. Entre outros, existem facetas dentais polidas, incremento da linha alba, na mucosa jugal, edentações no bordo lateral da língua. Além disso, o desconforto de familiares também pode ser um alerta para o problema, no momento em que identificam ruídos durante o sono do paciente, decorrentes da atrição. Isso, muitas vezes, não é percebido pelo portador. Ainda sob este aspecto, a dificuldade de determinação da prevalência do bruxismo seria intensificada pela variação tanto da frequência quanto da intensidade dos episódios em um mesmo indivíduo. Desta forma, faz-se necessário uma atenção especial do cirurgião-dentista no sentido de diagnosticar e alertar o paciente quanto à existência e à prevenção das consequências deste hábito parafuncional. O fato é que o bruxismo ocorre em cerca de 90% da população em geral, e pode estar presente em indivíduos portadores de próteses totais durante o sono. Atinge, portanto, todas as faixas etárias, sendo mais prevalente entre os 30 e 40 anos, tendendo a decrescer após os 50. Ainda que exista uma relação significante de dependência entre a observação do hábito de bruxismo e o tempo de aleitamento materno. Sinais clínicos presentes no bruxismo são: desgaste excessivo nas faces incisais dos dentes anteriores inferiores, perdas de guias de desoclusão, desgastes acentuados em anteriores e posteriores, fraturas dentais e de restauração, problemas pulpares, perda de sustentação e mobilidade dental, dores musculares na face, cabeça, têmporas e região cervical, hipertrofia muscular, trismo, disfunções têmporo-mandibulares e até perda de elementos dentais.

 Existe algum problema se eu não tratar?

Sim. Como em toda patologia, os problemas relacionados irão se agravar e o tratamento vai ficando cada vez mais difícil, sendo necessário, em casos extremos, procedimentos cirúrgicos na articulação têmporo-mandibular (ATM).

 Quais as modalidades (tipos) de tratamento?

O paciente bruxômano necessitaria de cuidados especiais que promovessem: 1) redução da tensão psicológica; 2) tratamento dos sinais e sintomas, como o desgaste da estrutura dentária e algias musculares; 3) modificação do padrão neuromuscular habitual. Assim, dentre as várias alternativas de tratamento, podemos incluir relatos na literatura sobre a confecção de placas interoclusais, a farmacoterapia e terapia psicológica de suporte, fisioterapia, acupuntura, a aplicação de toxina botulínica. Casos que envolvem desarranjos na mordida podem ser tratados com ajustes oclusais, reabilitações restauradoras e até ortodontia. O tratamento, portanto, deverá ser multiprofissional, mas o atendimento odontológico é o primordial.

 Qual a função das placas de mordida nesses casos?

A placa de mordida interoclusal promove uma redução da hiperatividade muscular, protege as estruturas dentais e de suporte, estabiliza os contatos interdentais e promove um relaxamento muscular, diminuindo as tensões e a possibilidade de travamento (trismo), e redistribui as forças exercidas durante os episódios de bruxismo. A placa interoclusal também é um importante meio de diagnóstico. É um método conservador, reversível e de grande valia. Dentre as desvantagens do uso da placa interoclusal, podemos citar a dificuldade relativa de adaptação, alteração da fonética e incentivo ao paciente para o uso contínuo da mesma pelo tempo estipulado. Por outro lado, o incentivo maior é a verificação da interrupção do processo e melhoria dos sintomas a curto prazo. A conduta do cirurgião-dentista deveria estar voltada para a identificação dos sinais e/ou sintomas mais significativos e aos encaminhamentos mais evidentes, com a finalidade de identificar a causa, e nunca, pura e simplesmente, tratar somente o sintoma.

 Bruxismo tem cura?

A cura permanente do bruxismo é desconhecida até o momento. O cirurgião-dentista deveria selecionar uma terapia conservadora e reversível como primeira opção de tratamento. É necessário ainda ressaltar que seria comum surgirem novas manifestações de bruxismo após o final de períodos longos de tratamento com placa interoclusal. A precisão em seu planejamento é fundamental. Fica claro que é de responsabilidade do profissional da área de Odontologia diagnosticar e detectar a ocorrência do bruxismo, bem como realizar os encaminhamentos aos profissionais responsáveis por outras áreas da saúde, de forma a reconhecer que nem sempre estaremos aptos a interromper a atividade parafuncional.