"Banalização da morte": como as redes sociais reagiram à barbárie no RJ
Da celebração da violência à divulgação de imagens dos corpos, levantamento feito por pesquisadora da FGV revela o comportamento dos usuários após 24 horas desde a operação nos complexos do Alemão e da Penha
A megaoperação policial realizada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, na última terça-feira (28), resultou na morte de, pelo menos, 120 pessoas, entre suspeitos de serem membros do crime organizado e agentes de segurança pública. O triste episódio também deixou marcas negativas na forma em que as redes sociais repercutiram o caso, com a circulação de imagens e vídeos dos corpos, transformando a barbárie em espetáculo digital. Um levantamento feito pela doutora em marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, Lilian Carvalho, mostrou que, em menos de 24 horas, a operação gerou 43 mil menções nas redes sociais, sendo 67% neutras e 27% negativas. O que mais chama a atenção, segundo Lilian, é o que ela classificou como “normalização algorítmica da barbárie".
“O sentimento predominante foi medo ou nojo, com 22% das menções cada, mas um número significativo de 11% expressou alegria diante da violência. A experiência contemporânea comprova o que venho alertando em minha pesquisa: algoritmos não têm lado, mas reproduzem e exacerbam aquilo que há de mais barulhento e emocional em cada bolha”, revela.
Os termos mais citados, de acordo com o levantamento, incluíram "Complexos do Alemão e da Penha", "CV", "segurança pública", "Operação Contenção", "Polícia Militar", "crime organizado" e "facções criminosas". O governador do Estado, Cláudio Castro, teve quase 10% do total de menções, o que pode significar apoio por parte destes internautas que demonstraram alegria com a ação policial de ontem.
Para a pesquisadora da FGV, a celebração da violência por 11% dos usuários pode evidenciar a dessensibilização dos usuários em relação às mortes, ou ainda, um protesto em relação à situação de insegurança pública que não só o Rio de Janeiro vive, mas que se torna mais evidente na capital carioca. “Essa taxonomia digital revela como a narrativa da operação foi enquadrada: entre a justificativa da segurança pública e a crítica à brutalidade estatal”, afirma.
Caíque Rocha - caique@compliancecomunicacao.com.br
