Aumento na mistura de etanol anidro na gasolina gera demanda adicional de 1,2 bilhão de litros

O governo brasileiro autorizou o aumento da proporção de etanol anidro na composição da gasolina, elevando o percentual de 27% para 30%. A medida, além de reforçar o compromisso do país com combustíveis mais sustentáveis, tem impacto direto na cadeia produtiva do setor sucroenergético.
Estima-se que, para cada 1 ponto percentual de aumento na mistura, a demanda adicional por etanol anidro seja da ordem de 400 milhões de litros. Assim, com o acréscimo de 3 pontos percentuais, o mercado absorverá um volume extra de 1,2 bilhão de litros de etanol anidro.
Essa mudança representa uma importante sinalização de estímulo à produção nacional, fortalecendo o papel do etanol como alternativa estratégica na matriz energética brasileira e contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, o cenário atual de mercado já aponta uma remuneração mais atrativa para o etanol anidro em comparação ao açúcar, especialmente quando considerados fatores como custo de produção, liquidez, velocidade de comercialização e distância das usinas até os portos de exportação. Essa vantagem relativa tem o potencial de levar as usinas a realocar parte da cana-de-açúcar destinada anteriormente à produção de açúcar para a fabricação de etanol anidro, maximizando margens e atendendo à nova demanda gerada pela elevação da mistura.
A decisão também gera impactos econômicos positivos em toda a cadeia agrícola e industrial do setor sucroalcooleiro, beneficiando produtores de cana-de-açúcar, usinas, distribuidoras e regiões economicamente dependentes da agroindústria canavieira. Além disso, contribui para a valorização do biocombustível brasileiro no cenário internacional, dado seu papel reconhecido na transição energética global.
O Brasil, líder mundial na produção e uso de etanol como combustível, reafirma com essa medida seu protagonismo na promoção de soluções energéticas renováveis. A elevação da mistura também pode reduzir a necessidade de importação de gasolina fóssil, trazendo reflexos positivos na balança comercial e maior previsibilidade ao mercado interno.
Trata-se, portanto, de uma decisão com efeito estrutural — tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico — que deve impulsionar novos investimentos, elevar a eficiência logística do setor e consolidar a importância do etanol como vetor estratégico da política energética nacional.
Paulo Roberto Garcia
Engenheiro de Produção – Universidade de São Paulo (USP)