CRISTINA FRAMARTINO BEZERRA
Na produtiva semana que passou, me encantei com a leitura do Livro “Entre livros e goiabas”, do Querido Amigo, Presidente da ARL, Advogado e Escritor Elias Antonio Neto, que me proporcionou deliciosas viagens por suas visões de mundo, lugares, pessoas e valores. Depois, na maratona de filmes e séries da Netflix, escolhi “27 noites”, que apresenta a internação forçada de uma mãe rica por suas filhas em uma clínica psiquiátrica, com medo de que seu jeito excêntrico pusesse a perder o patrimônio da família. Marta é controversa, uma ex bailarina que ama festas e cultura. Não vou dar spoiler, prometo! E hoje, enquanto me preparava para escrever um pouco, recebi no meu grupo de “whats” “Amigos e Amigas da Cris” um texto lindo da comadre Mara: Dona Marcela, infelizmente de autoria não mencionada.
O texto conta a história de uma Dona Marcela, que é levada pelo motorista da filha, com alguns de seus pertences, sem que soubesse antecipadamente, a uma Casa de Repouso chamado Lar de Idosos Santa Ana. Questionando sobre sua filha, recebeu a informação de que ela lhe telefonaria depois. Assim, Dona Marcela foi recebida por uma simpática enfermeira de nome Nicoleta, que a apresentou ao seu quarto. Ela então falou que tinha uma casa, um jardim, flores... Nicoleta respondeu com doçura de que ali também teria flores. O quarto era pequeno, mas agradável. Havia uma senhora ali, Dona Ileana, que, de acordo com a enfermeira, falava muito pouco. Ao que Dona Marcela sorriu e disse que nunca foi boa em ficar calada, falaria por ambas.
Os dias se passaram devagar, os moradores do Lar eram silenciosos, cansados, cada um com suas lembranças. Alguns esperavam visitas que nunca chegavam, outros viviam apenas do passado.
Dona Marcela não sabia ficar parada e em pouco tempo já havia se disposto a plantar flores e ervas, num pequeno pedaço de terra perto do portão de entrada. “- Aqui vai ser nossa primavera”! - dizia às outras pessoas do Lar. – Se não temos o que esperar, vamos esperar florescer”!
Em pouco tempo, um novo ar exalava pelo pátio! E até sua silenciosa companheira de quarto começou a falar mais e a admirar a vitalidade daquela senhora!
Dona Marcela não parou por ali. Sugeriu à Diretora do Lar que fizessem uma oficina de costura e de histórias. Explicou que todo mundo tem uma história e que ao costurar e contar suas histórias, um novo momento e muitas colchas de retalhos poderiam surgir! Conseguiu o apoio e os materiais necessários e, poucos dias depois, a sala de jantar estava cheia de vozes, risos e linhas coloridas.
Em pouco tempo, o Lar estava diferente! Mais cheio de vida e alegria, sob a influência benéfica de Dona Marcela.
Eis que, numa bela manhã de domingo, sua filha apareceu. - “Mamãe, vim te levar para casa”! – “Para casa, filha? Mas eu já estou em casa”! Sua filha pediu perdão, dizendo que pensou que estava fazendo o melhor por ela. Dona Marcela falou que de fato se entristeceu pela forma como tudo aconteceu, que achava que a vida dela tinha acabado quando ali chegou, mas que na verdade estava só começando. Que não iria embora porque precisava regar as flores para aquelas pessoas que no Lar viviam. Desde então, a filha passou a frequentar o Lar cada vez mais e a sentir o quanto sua mãe era amada por todos. Dona Marcela foi convidada a assumir a coordenação das atividades da Casa, porque, de acordo com todos, passou a ser “a alma daquele lugar”!
Recebeu homenagens e partiu serenamente tempos depois, deixando um pedido “para que uns cuidassem dos outros, porque o amor nunca se aposenta!”
Não creio que tenha sido ficção. Nas minhas andanças pela vida, nos diversos lugares onde tive o privilégio de ser voluntária, encontrei muitas “Donas Marcelas”, “Tias Natalinas”, “Avós Marias”, “Senhores Paulo, Tio João, Sebastião... Gente que aprendeu a fazer deliciosas limonadas dos limões que a vida lhes ofertou.
Percebo cada vez mais o quanto é gratificante e compensador quando não perguntamos porque algo nos aconteceu e sim o que fazer com o que nos aconteceu.
Sou prova viva de que não é fácil. Por vezes, as decepções são grandes. O que entendemos como ingratidão, traição, puxada de tapete. Porém, quanto mais rápida for nossa compreensão de que até o que não parece pode nos favorecer depois, reagimos com menos sofrimento diante das adversidades. E se pegarmos uma pá, como a Dona Marcela, e encontrarmos um pedacinho de terra para deixarmos perfumadas flores para a posteridade, nossa vida terá ainda mais propósito e muito sentido!
Muito Amor e Luz pra Você!
Cristiane Framartino Bezerra
Historiadora de Religiões, Escritora, Cerimonialista, Celebrante, Produtora Cultural, Angelóloga
Atendimento Angélico Presencial em Ribeirão Preto e Sertãozinho e a distância. Agendar pelo Whats: 16 999941696 ou Instagram: @crisbezerrarp.
