A escravidão no Brasil

30/05/2022

Neste final de mês de maio, vamos discutir a questão espinhosa sobre o porquê de os africanos terem sido escravizados no Brasil. É sempre bom lembrar que muitos historiadores dedicaram suas vidas e, até agora, não há um estudo conclusivo sobre o tema. Alguns acreditam que Portugal, por ser um pequeno país e que a partir do século XV, colonizou grande parte do planeta, não poderia fornecer trabalhadores para o novo mundo. Então usou-se o recurso da escravização de africanos, o que já era feito na própria Europa.

O que nos esquecemos é que sempre houve escravos na história dos seres humanos e também que a escravidão ainda ocorre, mesmo que proibida, recebendo hoje o nome de trabalho análogo à escravidão. Nesse contexto, a maior parte dos escravos foi de brancos, principalmente os eslavos, que acabam de dar nome a esse tipo de trabalho - como é fácil perceber pelo nome da escravidão (em inglês slave, que, em espanhol, é esclavo, donde vai original escravo em português).

O início da escravidão do negro no Brasil se dá no momento em que a Europa está fazendo o seu Renascimento Cultural e, portanto, os renascentistas questionam o porquê da escravidão de seres humanos. E assim, para esconder uma relação econômica indecorosa, os traficantes criam uma justificativa ideológica: eles (os africanos) não são humanos e o que prova isso é a diferente cor da pele. O preconceito sempre existiu. A novidade é o preconceito contra o negro.

Quem melhor esclarece essa questão é Fernando de Novaes, segundo o qual é o tráfico que dava lucro, pois estávamos em pleno mercantilismo, um tipo de economia cujo lucro vem da circulação da mercadoria. Assim, trocar aguardente produzida no Brasil por um africano e vendê-lo no Brasil a um preço que hoje estaria por volta de R$ 40.000,00, dá bem a noção do porquê Portugal proibiu a escravização do indígena, pois, sem tráfico, o lucro gerado pelo índio escravizado seria muito menor. Para além disso, estudiosos como Sheila Castro e Jorge Caldeira mostram que a riqueza do Brasil era gerada no tráfico, que dava mais lucro que o açúcar, o ouro e o café. Trazer africanos para vendê-los no Brasil era “o carro chefe” da nossa economia, pois estimulava a construção naval, os bancos financiadores do empreendimento e ainda as casas de seguro. Os navios negreiros eram chamados de tumbeiros, por causa da quantidade de africanos que morriam na travessia do oceano, mas o traficante não perdia seu empreendimento por causa do seguro.

A quantidade de capital gerada nessa verdadeira empresa escravocrata movimentava e financiava a economia interna do Brasil. Portanto, esse país deve muito aos negros, primeiro porque, como já ficou dito, pelo lucro do tráfico mercantilista; segundo porque o negro trabalhou na produção do açúcar, do tabaco, do chocolate, do ouro e do café. E até hoje é a mão de obra mais barata e desassistida do país. Evidentemente, sabemos que outro grupo injustiçado são os aborígenes, erradamente chamados de indígenas. Esses povos da floresta foram escravizados antes da chegada dos africanos, junto com os africanos (apesar da proibição) e continuam sendo escravizados e marginalizados até hoje. Poucos se lembram que o trabalho indígena também construiu a riqueza econômica e cultural do Brasil.

 

Prof. Egydio Neves Neto

Prof. Renata Neres